Primeira Hora Extra vs Realidade: Transparência ou Caminho para Privatização?

Na sexta-feira, 5 de setembro de 2025, os trabalhadores dos Correios receberam o boletim Primeira Hora Extra, que trouxe o balanço do segundo trimestre da empresa. A iniciativa surpreendeu por expor números duros de forma pouco usual: queda de receitas, aumento de despesas, explosão dos passivos judiciais e prejuízo bilionário.

Porém, ao compararmos essa narrativa oficial com a reportagem e o editorial publicados pela Folha de S.Paulo, vemos que há muito mais em jogo. Se por um lado o jornal revela riscos importantes que o boletim não destacou, por outro, a linha editorial da Folha usa esses mesmos dados para empurrar a defesa da privatização dos Correios.


O que diz o Primeira Hora Extra (versão oficial)

Segundo o comunicado interno da empresa:

  • Receita de R$ 8,9 bilhões no 1º semestre de 2025, queda de 9,5% em relação a 2024.
  • Perda internacional: queda de 60% no volume de encomendas, gerando menos R$ 1,3 bilhão em receitas.
  • Despesas: R$ 13,4 bilhões, puxadas por passivos judiciais que dispararam mais de 500%, alcançando R$ 4,6 bilhões.
  • Prejuízo líquido: R$ 4,3 bilhões no semestre.
  • Medidas emergenciais: empréstimo de R$ 1,8 bilhão, cortes de custos, criação do marketplace Mais Correios e busca de financiamento de R$ 4 bilhões com o Banco dos Brics.
  • Mensagem final: a crise é séria, mas estaria sob controle com medidas em andamento.


 O que a Folha revela (reportagem)

Na reportagem do dia 5/9, a Folha de S.Paulo mostrou que a situação pode ser ainda mais grave: os Correios correm risco de ficar sem caixa até o fim do ano. (leia aqui).

  • A estatal pode precisar de R$ 5 a R$ 8,7 bilhões em aportes do Tesouro Nacional para pagar salários e fornecedores.
  • O impacto no Orçamento da União poderia chegar a R$ 20 bilhões, segundo simulações da equipe econômica.
  • Há ainda um passivo de R$ 600 milhões em dívidas com fornecedores que já sofrem com atrasos de pagamento.
  • As medidas já adotadas (empréstimos, cortes, contingências) podem não ser suficientes sem a entrada de novos recursos.

Essas informações desmontam a ideia de que tudo está “sob controle”.


O editorial da Folha e o viés privatista

No dia seguinte, a Folha publicou o editorial “É urgente privatizar os Correios” (link aqui), em que defende abertamente que a solução para a crise é entregar a estatal à iniciativa privada.

O texto não discute os efeitos sociais de uma privatização, não avalia experiências internacionais fracassadas e ignora o papel estratégico dos Correios em todos os 5.570 municípios brasileiros. A crise é usada como argumento para reforçar uma narrativa antiga: a de que “o mercado resolve tudo”.


A resposta da Findect

A Findect reagiu de imediato ao editorial da Folha, publicando uma nota de repúdio (leia aqui). A federação lembrou que:

  • Os Correios cumprem papel estratégico no Brasil: entregam urnas eletrônicas, apoiam programas sociais, garantem acesso a serviços postais em cidades pequenas e regiões remotas.
  • Privatizar significa abrir mão da universalidade do serviço postal, deixando milhões de brasileiros sem acesso garantido.
  • Experiências internacionais mostram que a privatização de serviços postais gerou aumento de tarifas, fechamento de agências e perda de direitos trabalhistas.
  • A crise atual não pode ser justificativa para entregar a empresa — mas sim um alerta para o governo investir em modernização, eficiência e valorização dos empregados.


Entre transparência e manipulação

O que vemos é um jogo de narrativas:

  • O Primeira Hora Extra tenta mostrar transparência, mas suaviza riscos graves como a falta de caixa imediato.
  • A Folha, por sua vez, traz à tona esses riscos — mas os usa como munição para defender a privatização.
  • A Findect rebate essa visão e lembra que os Correios são mais que uma empresa: são um serviço público essencial, ligado à soberania nacional.

Por isso, precisamos de cautela: é importante conhecer os números, mas é fundamental entender quem os divulga e com qual interesse. Os trabalhadores não podem aceitar que a crise sirva de pretexto para desmontar uma empresa pública que há quase quatro séculos garante integração e cidadania em todo o Brasil.



👉 E você, trabalhador dos Correios: acredita na narrativa de que a privatização é a única saída, ou na luta por uma empresa pública, moderna e socialmente necessária?

Deixe seu comentário e fortaleça o debate!


✍️ Por Junior Solid

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