Greve nos Correios: problema ou solução?



Greve-Mecanismo de pressão


A greve no Brasil teve sua legalização somente a partir da Constituição cidadã de 1988. Antes disso, a greve era considerada ilegal, inclusive, a adesão a este tipo de movimento custou a demissão de milhares de trabalhadores (as), inclusive a morte de muitos destes que contrariaram a ditadura imposta naquele período. Até hoje muitas das vítimas ainda buscam na justiça a sua anistia.

 Enquanto que em países mais avançados a defesa dos direitos dos cidadãos são atos normais, valorosos e necessários, por estas bandas, este ato reivindicatório é considerado, ainda, “coisa de vagabundo”. No Brasil, o histórico de defesa de direitos sempre foi reprimido, até os dias atuais.

A greve é um mecanismo importante na defesa dos direitos e interesses daqueles que a deflagram. O seu papel é mostrar a organização e nível de informação daqueles trabalhadores (as). A ideia é pressionar. Assim, no confronto de forças políticas, aqueles que melhor se organizarem e definir melhor estratégia e táticas tem chance de êxito no resultado final.

Greves dos Correios não é para cumprir calendário


A categoria de Correios é uma das poucas que anualmente se organiza em prol dos seus direitos, inclusive com perspectivas de greve. Para desmoralizar a organização dos ecetistas, a direção da empresa tenta configurar que a greve dos Correios é uma questão de “cumprir calendário” e prejudicial a população.  Na verdade, a luta nos sindicatos e federação, é que tem garantido, não só os direitos dos empregados que nela trabalham, mas também  garantindo uma empresa pública na execução do serviço postal, o que resulta em benefícios para toda a sociedade.

Através das representações sindicais e a mobilização daqueles que apoiam os movimentos paredistas, muitos avanços foram garantidos, a exemplo, os adicionais para as atividades de Correios, e garantias acima da CLT para todos. Infelizmente, todos estes avanços estão  agora em risco, e mais do que nunca o mecanismo da greve é essencial.

Para o sucesso da greve


A greve é ápice do confronto de forças na luta de classes, e seu desenvolvimento pode trazer consequências positivas ou não. Para obter êxito na luta é preciso que o conjunto de trabalhadores (as) defina claramente os objetivos a ser alcançados. Nos correios, este tem sido um grande problema, pois com uma pauta extensa e sem definir as prioridades, cada trabalhador entra na greve defendendo a bandeira da sua atividade, e as demandas coletivas ficam prejudicadas e sem força para chegar a um consenso.

Além de objetivos bem definidos é preciso ter um senso coletivo da necessidade da participação maciça dos trabalhadores (as). Durante as greves, não é difícil se vê trabalhadores “aproveitando” o período para lucrar, com horas extras e repouso remunerado. Além disso, uma grande demanda de agências de Correios continua recepcionando as encomendas e capitando recursos, que é o que importa para a empresa. Enfraquecendo o movimento grevista.

Como uma colcha de retalho é preciso compreender que no mundo globalizado não só a mobilização garante de um bom resultado. Outros mecanismos são essenciais e devem estar estritamente ligados para alcançar um objetivo positivo. Além da mobilização, é preciso  atrelar estrategicamente ações junto a imprensa,  área jurídica, e também o apoio político do executivo e legislativo, de todas as esferas.

A imprensa nos movimentos grevistas


A informação é de suma importância para alavancar qualquer movimento, tanto para a comunicação interna, como a externa, que sofrerá os reflexos da greve. Porém, a dificuldade de acesso a mídia aberta para exposição dos dados para a sociedade é complexa.  O pouco espaço disponibilizado para esclarecimentos por parte dos grevistas sempre é limitado, e os patrões quase sempre tem mais “condições” e “tempo” para convencer a população contra os grevistas. O pagamento por parte dos sindicatos de publicidade sindical é inviável. Os preços são inacessíveis. Logo, é preciso criar mídias alternativas para esclarecer o máximo de trabalhadores (as) sobre a necessidade e objetivos da greve, assim como criar forças tarefas para massificar estas informações, com todo trabalhador sendo veículo destas informações.


Intervenção do judiciário 


Há que se considerar que muitos trabalhadores já não se animam em aderir as greves, porque a intervenção do judiciário tem sido uma constante nas negociações coletivas. Batendo o martelo para por fim as greves. Esta intervenção realmente prejudica a autonomia dos trabalhadores (as). Para garantir o cumprimento das decisões o judiciário tem aplicado duríssimas multas aqueles que ousarem contrariar as decisões judiciais. Infelizmente, o movimento sindical poderia avançar, mas o enfraquecimento dos cofres dos sindicatos tem sido alvo dos patrões, e um ataque a organização sindical.

Muito há que se debater sobre a atuação do judiciário sobre prejudicar a autonomia dos sindicatos, mas temos que considerar que a adesão ao movimento impacta nas decisões a ser tomadas pelos magistrados. Logo, uma greve com adesão maciça pode mudar os rumos destas decisões, pois os Tribunais também têm acompanhado as repercussões políticas e sociais.


Ataques ferozes por parte da ECT


Com a aproximação da campanha salarial 2017/2018, e diante de tantos ataques direcionados aos trabalhadores (as) o enfrentamento é necessário. Por isso, o mecanismo da greve será de suma importância no embate. Desta maneira, é preciso alinhar os interesses coletivos e corrigir os erros. Atrelar a mobilização maciça, com a atuação politica, judicial, e com uma mídia que repercuta os interesses dos trabalhadores e da população.

O movimento sindical, mais que nunca, precisa prezar pelo diálogo exaustivo, e dentro da capacidade de cada um “ente político”, que compõe a categoria,  buscar o ponto de equilíbrio que sintetize a luta coletiva. O que está em jogo é a manutenção dos empregos, e os direitos adquiridos historicamente na luta, como o plano de saúde.

A greve deve ser vista como uma arma importante em defesa dos empregados, e logo bem organizada, para que diante da conjuntura sombria que assola o país  os trabalhadores possam salvar os seus direitos.

Por nenhum direito a menos.

Suzy Cristiny da Costa
Secretária de imprensa da Fentect 
Secretária de Assuntos jurídicos do SINTECT ACRE
Representante do MOVIMENTO SINDICAL DE BASE/Bloco atuação sindical. 
Formanda em Direito pela UFAC.
Colunista do Blog Mundo Sindical Correios -  Todas às Quarta-feira

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