Conclusão: Mitos e Verdades sobre Negociação

Em primeiro lugar caríssimos leitores, meu imenso muito obrigado pelas mensagens, e-mails, conversas e debates que tive sobre o assunto em voga: mesa de negociação permanente entre ECT & Trabalhadores. É obvio que li muita coisa que considerei interessantíssimas e apliquei leitura em outras das quais discordei, mas como prometi voltar ao assunto aqui estou eu. E como promessa é dívida, vamos lá.

No texto anterior "FATO HISTÓRICO: o retorno das discussões trabalhistas em DEZEMBRO" abordei parte do cenário com o qual convivo a anos (meio sindical da ECT), onde tive a felicidade de conhecer ótimas pessoas em todos os grupos e analisei o documento "Regimento Interno" para as reuniões de negociação propostas unicamente pela ECT. Ressalto inclusive que estas normas apresentadas podem e devem mudar. Me comprometi a prestar um opinião mais finalista de se vale ou não a pena investir em negociações com a diretoria da ECT. Sim, existem grupos distintos com ideias muito boas defendendo e negando a negociação com a empresa e não foi a toa que iniciei o texto anterior com conceitos de 2 palavras muito presentes em nossas vidas: risco e democracia.

Decerto que vou opinar sobre diversos temas que circundam essa reunião porém considero alguns de extrema relevância.

Sentar para negociar com a empresa não faz de ninguém pelego. (assim como não negociar não faz de ninguém combativo).


Criou-se um mito de que negociar com a empresa é coisa de gente do mal, situação praticada por vendidos e que o trabalhador somente pode contar consigo mesmo para conseguir qualquer coisa. Uma mentira descarada por sinal. O trabalhador não é uma ilha imune ao mundo. Somos parte de uma sociedade. Muito menos ainda pode existir progresso sem que haja estabilidade também na empresa. O clima de terrorismo implantado por alguns que marginalizam quem negocia com o patrão chega a ser verdadeiramente criminoso. Alguns dizem, "Wilson, os pelegos safados do(a) (*inclua aqui o sindicalista inimigo*) vai vender a categoria." E respondo. - Nenhuma decisão neste país pode diminuir direitos graças a súmula 277 (ultra atividade), famosa em nosso meio por ter sido confundida com acordo quadrianual e pela própria CLT que não permite o trabalhador (ou pequenos grupos de trabalhadores) terem diminuídos seus diretos. Vários dos nossos direitos hoje são inclusive irrenunciáveis. Então o ACT continuará sendo o mínimo aceitável até que 2/3 dos sindicatos digam o contrário. E isso somente poderia acontecer caso os sindicatos mais responsáveis para com os trabalhadores tiverem seus votos em branco por não participarem das negociações. Não expressar opinião significa apoiar a maioria.

É perda de tempo ir negociar com a ECT.


Alguns sindicalistas afirmam (e com razão) que tem situações regionais importantes a serem tratadas em suas bases. Que não tem tempo a perder com reuniões infrutíferas. Campeões, sinto muito mas não vão resolver absolutamente nada sozinhos. Toda e qualquer melhoria pode e deve ser conquistada pela força do trabalhador mobilizado mas estas mesmas melhorias sempre serão executadas pela empresa. Não é sindicato que vai contratar funcionário, concertar prédio, conseguir segurança, aumentar salários e benefícios. Executar, fazer acontecer o que foi negociado, é trabalho da EMPRESA. Óbvio que estas coisas todas, muitas vezes, são motivadas por pressões externas realizadas por sindicatos mas não emitir posicionamento progressista sobre os assuntos realizados não forçará em nada a empresa a agir bem. Pelo contrário, quem não se faz presente não é lembrado. Regra da vida.

A ECT somente conhece a linguagem da greve.


Novamente isto é uma frase má utilizada. A ECT não teme a greve. Ela teme a mobilização dos trabalhadores que podem levar a prejuízos enormes até mesmo sem greve. E trabalhadores não são mobilizados meramente ouvindo discursos esquerdistas ou porque trabalham com dificuldades sacrificantes. Se fosse somente isso teríamos sempre enormes greves todos os meses. Todas as grandes mobilizações da ECT ocorreram por intransigência da empresa após meses e anos de negociações. No parágrafo anterior eu disse que não é perda de tempo ir negociar. E reforço aqui que a empresa se comportando bem ótimo para todos pois assim todos ganham, ela se comportando mal naturalmente mobiliza os trabalhadores  o que leva ao conflito de forças. Grandes ganhos para os trabalhadores somente existiram após grandes negociações.

Não dá pra confiar em uma mesa onde vai estar sentado tanto PELEGO.


Neste item a análise é complexa. A partir daqui saímos do campo da lógica abordada nos itens anteriores e vamos utilizar as 2 palavras do inicio do texto que são democracia e risco. É inegável o risco que existe ao sentar com pessoas em sua bancada nas quais não se confia. Mais arriscado ainda é quando há um amplo retrospecto de armações e traições destes mesmos elementos. Inclusive, o que estará sendo debatido nestas reuniões são assuntos importantes como PCCS, remuneração, anistia, SD, casa própria, direitos das mulheres, assédio, segurança, PLR, dentre outros. Mas espera aí ... e vamos negociar quando então? Nunca? Quando não tiver mais pelegos eleitos? Quando sindicalistas não forem comprados pela ECT? Na administração e na vida  aprende-se rapidamente que não existe projeto sem risco. Este cenário ideal onde somente teríamos pessoas confiáveis negociando nunca existirá. Aí entra a democracia.

As leis sindicais.


Ficou muito clara a intenção e forma como a ECT prefere trabalhar em seu documento Regimento Interno. Mas, os trabalhadores tem de ter leis próprias, sua pauta, seu estilo, sua forma de determinar qual será o voto da bancada trabalhista. A bancada da ECT com certeza chegará nestas reuniões falando a mesma linguagem, com a mesma intenção. No nosso caso, se chegarmos nessas reuniões desunidos não teremos toda força que poderíamos ter. Um fato curioso é que notei opiniões muito diferentes entre os grupos, o que demonstra a completa falta de comunicação entre os mesmos. Concordam internamente, entre seus pares, mas não conseguem democraticamente para votar que forma de ação será a utilizada por todos. Coisas que deveriam ser simples como quem vai participar das reuniões, como será definida a votação das propostas, liberdade para apresentar propostas (ou limites) e até mesmo a questão de quanto em quanto tempo se reunirão fora das reuniões oficiais parecem não caminhar. Várias e várias reuniões são realizadas por pequenos grupelhos de 5 a 11 sindicatos mas ... Cadê a plenária?  Não dá pros grupos Huguinho, Zezinho e Luizinho chegarem lá cada 1 querendo ser o chefe da tribo de índios e puxando cada um para seu lado.

Ser bom sindicalista não significa discordar de tudo o que há escrito no regimento interno da ECT. Por mim não haveria regimento formal escrito assim como foi comentado por um dos colegas mas seja qual for a decisão sobre o assunto deve ser tomada por todos os representantes dos trabalhadores. A ECT por sinal propôs não se envolver na forma como os trabalhadores vão organizar sua bancada além do fato de solicitar a presença de todos os sindicatos (filiados ou não a FENTECT). E se a FENTECT repeitar isso ou não (ou se os não filiados vão querer ficar a reboque dos votos da FENTECT) são questões que tem de ser resolvidas pelos trabalhadores. É óbvio que defendo o respeito aos sindicatos regionais consolidados e as minorias sindicais no país, observo que questões completamente temporais e burocráticas tem sido utilizadas como armas por sindicalistas para impedir a presença de oponentes, além de que os resultados dessas disputas sem sido pífios aos trabalhadores. Seja qual for a decisão, os responsáveis por elas terão que assumir os ônus e bônus das mesmas. E quando eu digo assumir, digo demonstrar que foram responsáveis pela melhor decisão ou pelos problemas que estas escolhas causaram.

Os do contra.


Por fim, existem aqueles que serão do contra por serem do contra mesmo. E não é por criancice. É porque se a negociação der certo entre trabalhadores e empresa, acaba todo o discurso ideológico que detêm. Esses são os mesmos que defendiam o amplo comando de negociação e hoje querem somente 7 pessoas da FENTECT negociem, são os mesmos que diziam que a ECT nunca queria negociar e que hoje dizem ser o trabalhador que não pode querer negociar, são os mesmos que alegaram não seguir para reuniões porque a FENTECT não foi convidada (chegaram a dizer que a ECT não aceitaria a FENTECT) e em meia hora isso foi resolvido. Estes mesmos decretam que o trabalhador inclusive, deve ser radical impondo um "tudo ou nada", não com o objetivo de conseguir direitos mas pelo desejo do caos formado pela greve. Interessante é que não continuam em greve após ameaçarem o TST, mesmo afirmando ter amplo apoio de suas ideias na base. Para estes, acordos como o pagamento dos 30% por exemplo foram uma perda histórica aos trabalhadores pois o ECTistas deveria ter preferido "o nada" do que ter aberto mão temporariamente da aposentadoria especial. Para estes mesmos foi absurdo a assinatura deste acordo.

Muito cuidado mesmo com aqueles que falam de acordos quadrianuais que nunca existiram, que se apressam em apontar os dedos para os outros os acusando de vendidos, que falam que não teve greve em bases inimigas sindicais quando eles mesmos não conseguiram juntar mais do que 30 trabalhadores em assembleias nestas bases com mais de 22 mil funcionários. Há de se ficar atentos sim, contra ataques ao plano de saúde e PCCS por exemplo mas daí a fazer terrorismo ou tentar aplicar "adivinhação do futuro" buscando retirar pessoas com responsabilidade da mesa de negociação é o mesmo que dizer:
"Ei empresa, vocês podem decidir o que quiserem porque agente não vai sentar aí com vocês valeu?".
Até mesmo greves ficam prejudicadas neste caso. Como citei a um colega de trabalho, o que eu vou fazer se a ECT apresentar aos juízes e para a sociedade 24 solicitações de reuniões trabalhistas durante 12 meses, todas negadas pelos trabalhadores? Será que vou dizer que os ECTistas tem representantes que querem negociar ou que temos sindicalistas que querem todo tempo fazer greve pela greve?

Conclusão.


Não me furto a responsabilidade de defender negociação. Trabalho de sindicalista é o de representar os trabalhadores em todas as mesas de negociação possíveis. Negociar não impede mobilização. Propor e assinar bons acordos não significa traição. Não se pode aceitar dançar a música que a ECT quer do jeito que ela quer. Os trabalhadores tem que exigir suas normas, suas leis, de forma a ter uma negociação que produza bons frutos. Prefiro muito mais a participação de todos os sindicatos nas reuniões nacionais do que somente a FENTECT, pela representatividade que essas minorias tem. E por fim, os representantes sindicais tem que falar melhor uma mesma língua porque nenhum reino dividido consegue continuar existindo por muito tempo. É completamente impossível negociar todos os assuntos pendentes no ACT e é OBRIGAÇÃO  das partes negociar os vários temas da cláusula 46.

Sugestões:



  • Plenária urgente com todos os sindicatos de forma civilizada;
  • Estabelecer uma melhor sintonia entre todos os sindicatos e não só com os membros de sua corrente;
  • A consciência de que por mais expressão em, número de sindicatos, peso econômico, peso ideológico ou direito legal via TST seus grupos sindicais não conseguirão nada isolados da forma que estão. UNIÃO é que resolve;
  • Tirem dúvidas com a ECT antes das reuniões formais. A ECT tem seus planos mas não significa que estes não possam ser adequados. Vide o caso da não chamada da FENTECT que foi rapidamente resolvido.
  • Onde 2 não querem não existe briga. Toda e qualquer proposta somente pode ser executada pela mesa com igual voto dos trabalhadores e da empresa. Então mesmo que acabem divergindo em tudo que for apresentado hoje, mas negociem ao ponto de chegarem a um denominador comum com o tempo no amanhã;
  • Menos politiquismo e mais profissionalismo tanto da empresa quanto dos trabalhadores. Os trabalhadores não querem super herois ou saber quem é o menino bom ou o menino mal entre empresa X sindicatos. Precisamos de resultados bons, o que não temos a pelo menos 5 anos;
  • Acostumem-se a incluir assembleias mensais em seus calendários regionais. Infelizmente, não vi 1 sindicalista sequer falando de discutir com suas bases sobre participar ou não destas reuniões. Bola fora por sinal de muita gente;
  • Não tentem esconder nada da base. Hoje é impossível esconder por muito tempo os ocorridos. Isso inclui isolar oponentes sindicais dentro da própria FENTECT por exemplo. Pre conceitos deste modo são extremamente nocivos. Posso inclusive citar que muita gente a menos de 6 meses atrás acreditava que seria impossível reunir 32 sindicatos em uma mesa de negociação, tanto do meio sindical quanto da diretoria da empresa. Mas esse conceito enraizado (pre conceito) foi destruído no dia 12/11. Não se deixem domar por preconceitos;
Então vamos dizer não aos pre conceitos e construir em cima dos conhecimentos adquiridos (existe uma imensa diferença entre ambos) resultados bons aos trabalhadores. Também tenho medo do que pode acontecer nessas reuniões mas não posso deixar o medo me parar. Tenho sim é que superar o medo e criar algo que seja bom a todos pois o temor paralisa mas a coragem nos faz caminhar.

Wilson Araújo

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