Correios e a Traição Silenciosa: O Grito da Base que o Governo Não Quer Ouvir

Na última sexta-feira, 13 de junho de 2025, um texto publicado pelo carteiro e militante Rogério Trabuco ganhou força nas redes e grupos sindicais. Intitulado “A base ruiu – e o governo finge que não vê”, o desabafo vai além da crítica direta à presidência dos Correios: ele retrata um sentimento cada vez mais comum entre os trabalhadores da estatal e, de modo mais amplo, da classe trabalhadora que ajudou a eleger Lula pela terceira vez.

Trabuco, com sua linguagem crua e direta, denuncia o que chama de “traição da base”, acusando o governo de abandonar os trabalhadores que foram linha de frente contra o bolsonarismo, inclusive sob risco de vida.

“Muitos adoeceram, muitos morreram. E o que recebemos em troca?”, questiona ele, indignado, ao mencionar a manutenção de nomes ligados ao governo anterior, como Fabiano Silva dos Santos, atual presidente da empresa.

O governo e os sinais ignorados

A crítica central do texto não está apenas na figura de Fabiano, mas na estrutura política que o sustenta: um governo eleito sob a promessa de reconstrução popular que, na visão dos trabalhadores, tem se rendido à lógica do Centrão e da tecnocracia. O desabafo vem em meio a um novo levantamento do Datafolha que apontou queda na aprovação de Lula (28%) e um crescimento da reprovação (40%).

A fala de Trabuco sintetiza um fenômeno preocupante: o distanciamento entre o governo e as bases que sempre o sustentaram — servidores públicos, sindicalistas, carteiros, professores, petroleiros, ferroviários, entre outros.

O sentimento nas unidades: frustração, cansaço e abandono

Apurações em grupos sindicais e escuta direta de trabalhadores nas unidades dos Correios indicam que o texto de Trabuco não é isolado. Pelo contrário: muitos veem nele um porta-voz do que já vinha sendo murmurado em silêncio. Há um cansaço generalizado, agravado por:

• A manutenção de cargos estratégicos por quadros indicados no governo Bolsonaro;
• A continuidade de práticas abusivas de gestão, como o assédio moral;
• O fechamento de agências em áreas vulneráveis;
• A falta de diálogo direto entre o governo e os trabalhadores da ECT.

“É como se a gente tivesse lutado tanto para nada. A empresa continua tratando a gente como na época do desmonte bolsonarista”, afirma um atendente, sob condição de anonimato.

Onde estão PT e CUT?

Trabuco questiona diretamente a atuação das organizações que historicamente se posicionaram como defensoras dos trabalhadores: o PT e a CUT. Segundo ele, ambos estão silenciosos, omissos e distantes da realidade das estatais. Essa crítica ecoa especialmente entre os militantes mais antigos, que hoje se sentem politicamente órfãos.

“Não tem desculpa técnica. Não tem justificativa política. Tem sim: abandono da base”, resume Trabuco no texto.

Reivindicações emergem

A publicação termina com um conjunto de exigências que vêm ganhando adesão nas redes:

• Demissão imediata de Fabiano Silva dos Santos;
• Nomeação de uma liderança comprometida com a classe trabalhadora;
• Reparação pelas perseguições e adoecimentos causados pela omissão do Estado;
• Convocação de um Encontro Nacional da categoria com participação do PT, CUT e governo.

Esses pontos sinalizam que não se trata apenas de insatisfação momentânea, mas de um racha político que, se não for tratado com seriedade, pode ter impactos eleitorais em 2026.

Um alerta para o governo

O alerta dado por Trabuco e outros trabalhadores não deve ser ignorado. A base que hoje cobra é a mesma que garantiu, voto a voto, a derrota do bolsonarismo. E como ele mesmo diz, “sem militância orgânica, sem as mãos calejadas das estatais, o fascismo volta. E volta com sede.”

A pergunta feita no fim do seu texto ressoa como uma ferida aberta:

“Foi pra isso que a gente tirou Bolsonaro?”

O silêncio como resposta pode custar caro — não só politicamente, mas historicamente.

✍️ Por Junior Solid

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