“Mais Correios”: a nova aposta da estatal em meio a crises financeiras e sigilo contratual

 Em meio a um déficit bilionário, denúncias de má gestão e pressão por modernização, os Correios decidiram entrar de vez no jogo do comércio eletrônico. A estatal anunciou a criação do marketplace “Mais Correios”, uma plataforma digital que será viabilizada por meio de uma parceria com a empresa Infracommerce, especializada em soluções para e-commerce. Mas os detalhes do acordo estão envoltos em sigilo e dúvidas, enquanto os desafios operacionais e financeiros se acumulam.


Uma parceria envolta em segredos

Segundo apurado, os Correios e a Infracommerce assinaram contrato no início de abril de 2025, com vigência inicial de cinco anos, renovável por mais cinco. Apesar da importância e do impacto esperado, a estatal afirmou que os termos da parceria estão resguardados por sigilo empresarial, não revelando valores, metas específicas ou a lógica financeira detalhada do projeto.

Esse sigilo tem sido criticado por entidades que defendem o controle social sobre o uso de recursos públicos. O receio é de que, diante de uma gestão pouco transparente, se repitam erros de outras iniciativas privadas mal sucedidas dentro da empresa.


Plataforma “Mais Correios”: o que é?

Apresentada internamente por meio de lives a funcionários, a plataforma “Mais Correios” promete entrar em operação no dia 01 de Julho de 2025. A proposta é clara: disputar espaço com gigantes do setor como Mercado Livre, Shopee, Amazon, AliExpress e SHEIN, oferecendo como diferencial a capilaridade de entrega dos Correios, presente em todos os municípios brasileiros.

A Infracommerce ficará responsável por toda a infraestrutura tecnológica, incluindo o desenvolvimento da plataforma de vendas, os sistemas de pagamento, a experiência do usuário (UX), suporte técnico e segurança da informação. Em troca, será remunerada por comissões sobre o volume de vendas intermediadas pela plataforma.

Inicialmente, o foco será nas médias e grandes empresas, mas há planos futuros de abrir espaço para pequenos empreendedores — o que pode representar uma oportunidade relevante para artesãos, microempresários e iniciativas regionais.


Duas empresas em crise

O timing da parceria levanta dúvidas. Tanto os Correios quanto a Infracommerce estão em situação financeira delicada. Em 2024, os Correios fecharam o ano com déficit superior a R$ 3,2 bilhões. Já a Infracommerce - listada na B3 - acumulou prejuízo de R$ 1,8 bilhão em 2024 e outros R$ 44,8 milhões só no primeiro trimestre de 2025.

Trata-se, portanto, de uma união entre duas organizações que enfrentam sérias dificuldades econômicas e de imagem. Para especialistas em gestão pública, essa combinação pode ser arriscada, sobretudo diante da ausência de informações detalhadas sobre garantias, cláusulas de desempenho e plano de mitigação de riscos.


Concorrência pesada

O setor de e-commerce brasileiro é dominado por plataformas bem estruturadas, com logística ágil, políticas agressivas de frete grátis e forte presença nas redes sociais. Entrar nesse mercado exige, além de tecnologia, investimentos robustos em marketing, experiência do cliente e parcerias comerciais.

Ainda assim, os Correios apostam na logística nacional como trunfo. Em regiões onde a atuação de concorrentes é limitada — como o interior do Norte e Nordeste —, a estatal pode conquistar uma fatia significativa de vendedores e consumidores.


Riscos e pontos críticos

A aposta no modelo de comissionamento parece razoável do ponto de vista de incentivo: quanto mais a plataforma vender, mais a Infracommerce ganha. No entanto, a rentabilidade real desse sistema ainda é incerta, principalmente considerando o nível de concorrência e a necessidade de atingir alto volume para cobrir custos operacionais.

Além disso, o sigilo contratual gera enorme insegurança institucional. Parlamentares, sindicatos e órgãos de fiscalização como o TCU (Tribunal de Contas da União) e a CGU (Controladoria-Geral da União) já demonstraram preocupação com a opacidade do projeto.


Possíveis desdobramentos

Se o projeto decolar, poderá ser a principal virada estratégica dos Correios em décadas. Mas o sucesso dependerá de transparência, governança e resultados consistentes. Será preciso acompanhar de perto os seguintes pontos:

  • Volume de vendas e receita gerada por comissões;
  • Custos operacionais e retorno do investimento;
  • Satisfação de vendedores e consumidores;
  • Reação da concorrência e ofertas em regiões menos assistidas;
  • Participação de micro e pequenos empreendedores;
  • Evolução para novos serviços, como seguros, contas digitais e logística reversa.


Conclusão

O “Mais Correios” pode ser tanto uma revolução quanto um desastre anunciado. O histórico recente da estatal e da Infracommerce impõe cautela. Mais do que promessas, será necessário transparência, fiscalização social e metas claras para que a população confie e para que o projeto não se torne mais um capítulo de desperdício de dinheiro público.


✍️ Por Junior Solid

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