Crise nos Correios: como a “taxa das blusinhas” e a abertura ao mercado privado ameaçam a estatal

Apesar de 2024 os  e-commerce ter batido recorde de compras internacionais, os Correios vivem uma das maiores crises financeiras da sua história. Com um déficit acumulado superior a R$ 3 bilhões no último ano e mais de R$ 1,7 bilhão apenas no primeiro trimestre de 2025, a estatal parece estar sendo empurrada ao colapso — não por acaso, mas por decisões políticas equivocadas, abertura desregulada do mercado e más gestões sucessivas.

A chamada “taxa das blusinhas”, que inicialmente prometia gerar aumento de arrecadação federal, acabou minando a principal fonte de receitas da empresa pública. Somada à abertura do mercado internacional para empresas privadas, que atuam apenas nas regiões lucrativas, e à obrigação legal dos Correios de operar em todo o território nacional — inclusive onde há prejuízo —, o cenário aponta para um verdadeiro desmonte por dentro da estatal.


 A “taxa das blusinhas”: o bilhão que custou três

A medida entrou em vigor em agosto de 2024: uma alíquota de 20% de imposto federal sobre produtos importados de até US$ 50. Com apoio do Congresso, o governo Lula alegou que a tributação corrigiria a evasão fiscal de empresas estrangeiras e fortaleceria o comércio nacional. O problema? A conta simplesmente não fechou.

Segundo dados da Receita Federal, a arrecadação com essas encomendas saltou para R$ 2,98 bilhões em 2024, um aumento de 40% em relação ao ano anterior. Por outro lado, os Correios perderam R$ 2,16 bilhões em receitas somente com a queda do volume de remessas internacionais, que passou de 209 milhões para 187 milhões em apenas um ano. Ou seja, a política gerou arrecadação, mas produziu um rombo maior ainda para a estatal.

Como bem analisado por internautas e especialistas, o que se arrecadou em tributo (quase R$ 1 bilhão a mais) não cobre nem de longe o que os Correios deixaram de receber — e ainda prejudica o consumidor, que hoje paga mais caro e espera mais tempo para receber produtos vindos da Ásia.


O resultado prático: rombo bilionário

O primeiro trimestre de 2025 escancarou o tamanho do estrago: R$ 1,7 bilhão de prejuízo, mais do que o dobro do mesmo período de 2024. Com menos encomendas internacionais, custos fixos mantidos e aumento da competição privada, os Correios enfrentam uma tempestade perfeita.

Ainda mais grave é o descompasso entre a obrigação legal da estatal de manter o serviço postal universal, alcançando 100% dos municípios brasileiros, e a competição assimétrica com empresas privadas que só atuam onde há lucro. Em outras palavras: enquanto as transportadoras internacionais atuam em áreas urbanas ricas — os chamados “regiões filé” —, os Correios seguem entregando cartas e encomendas em comunidades ribeirinhas, áreas indígenas, vilarejos no interior do sertão e pequenas cidades da Amazônia.


A abertura do mercado internacional: o filé para os privados, o osso para os públicos

A perda de mercado começou a se intensificar a partir de 2017, com a extinção do e-Sedex e o avanço das transportadoras estrangeiras no Brasil. Empresas como FedEx, DHL, AliExpress, Cainiao e plataformas como Loggi passaram a disputar o frete internacional e nacional nas regiões de maior rentabilidade.

Em paralelo, o modelo “Correios Packet” — implementado desde 2019 — delegou parte da logística internacional às empresas privadas ainda na origem do envio, deixando os Correios apenas com a entrega final, quando muito. O resultado foi previsível: queda de volume, perda de controle sobre a cadeia logística e maior exposição ao déficit.

A cereja do bolo foi o crescimento das startups e das plataformas de frete expresso. Elas tomaram as capitais e cidades do Sudeste, enquanto os Correios, sem escolha, assumiram a cobertura nacional — incluindo locais onde a entrega custa mais do que o valor do objeto.


E o governo atual? Erra feio ao repetir a lógica mercadológica

Apesar de sua origem popular, o atual governo agiu, nesse caso, como um governo fiscalista e liberal. A "taxa das blusinhas", vendida como um ato de justiça tributária, demonstrou-se uma medida tecnocrática e míope, que desconsiderou o papel estratégico da estatal e o equilíbrio do ecossistema postal.

Pior: ao não oferecer nenhuma forma de compensação à empresa pública pela perda de receita internacional, o governo Lula expõe os Correios a um risco real de colapso financeiro — cenário que, aliás, seria amplamente usado como justificativa para futuras privatizações, um pesadelo anunciado.

É preciso dizer claramente: criticar esse erro não significa fazer coro com os apoiadores do governo anterior, que sucateou os Correios entre 2019 e 2022, tentou vendê-los a qualquer custo e cortou direitos dos trabalhadores. Nossa crítica é de esquerda, baseada na defesa do serviço público, da soberania nacional e dos trabalhadores que mantêm a estatal viva mesmo em tempos de crise.


Correios precisam de um plano nacional de fortalecimento - não de abandono

A solução para os Correios não passa por mais tributos nem por novos cortes. É urgente:

  • Criar um subsídio federal permanente para a manutenção do serviço universal;
  • Regulamentar com clareza a atuação de empresas privadas, proibindo que só explorem rotas lucrativas sem contrapartidas;
  • Investir em logística, modernização e reestruturação interna, aproveitando a capilaridade dos Correios como ativo estratégico nacional;
  • Retomar o debate sobre o papel da empresa como instrumento de integração nacional e inclusão digital, e não apenas como operador de entregas.


Em defesa dos Correios, do serviço público e do Brasil profundo

É hora de parar de fingir que os Correios estão falindo somente por “por incompetência” ou “porque ficaram ultrapassados”. A verdade é que, sem apoio político, sem uma política pública robusta e com ataques coordenados à sua estrutura e sua imagem, nenhuma empresa suportaria.

O Brasil não pode abrir mão de uma instituição centenária, com credibilidade, capilaridade e papel social essencial. Defender os Correios não é saudosismo, é questão de soberania. E o governo atual precisa entender isso - antes que seja tarde.


✍️ Por Junior Solid

🌍 Blog Mundo Sindical Correios – A voz de quem trabalha e resiste!

Inscreva-se no nosso canal no WhatsApp e receba as notícias do Blog Mundo Sindical Correios direto no seu celular! 📲

https://whatsapp.com/channel/0029Vaxppbu4CrfkxRYSqv31

🔗 Siga nas redes sociais:

📘 Facebook: facebook.com/blogmundosindical 

🐦 Twitter/X: MundoSCorreios

🧵 Threads: @mundosindicalcorreios

📸 Instagram: mundosindicalcorreios 

📺 YouTube: youtube.com/@mundosindicalcorreio


Siga o Blog Mundo Sindical Correios para ficar atualizado sobre esta e outras notícias importantes. Se você tem alguma opinião ou comentário, deixe-nos saber abaixo. E não se esqueça de compartilhar este post com seus colegas e amigos para que mais pessoas fiquem informadas!

Blog Mundo Sindical Correios – Aqui você encontra as últimas notícias e análises sobre o que impacta o mundo sindical e os trabalhadores dos Correios.



Postar um comentário

0 Comentários