Tão defendido por muitos o sistema capitalista vem demonstrando historicamente seu fracasso. Não são poucas as crises econômicas que surgem ao longo dos tempos.
O grande mito que para ter sucesso basta se esforçar é desnudado quando vemos que não basta somente o esforço, é importante o "jeitinho" de se explorar o outro para ter sucesso. Por isso sempre dizem que o mundo é dos espertos, pois a essência do capitalismo é a exploração do outro.
Sempre que se esgotam as fontes do lucro, quando surgem possibilidades de alterações na pirâmide social de um país ou entre potências mundiais, eis que surge a "operação crise".
Quase sempre criada pelos mais diversos mecanismos: guerras, golpes, boicotes econômicos, enfim, a crise sempre trás como solução:
- A retirada de direitos dos trabalhadores;
- e salvar os ricos, na maioria das vezes com benesses do Estado aos "falidos".
No Brasil temos muitos exemplos disso. O "público" salvando o "privado".
Mas, por hora, deixemos o fracasso do sistema capitalista para outra oportunidade, e vamos adentrar no surgimento da crise nos Correios. O fracasso do capitalismo, não só dele, mas também do socialismo merece um outro capítulo a parte.
A crise nos correios
A partir desta pequena exposição introdutória. A crise nos Correios não é fruto da queda do mercado de “entrega das cartinhas”. Todo bom conhecedor sobre o assunto sabe que a empresa não sobrevive há muito tempo somente deste mercado, pois o mundo mudou e os Correios também, mesmo que não tenha sido a contento.
Os Correios é uma empresa que já abarcou diversos segmentos, assim como em outros Correios mundiais, atuando não só na entrega de correspondências oriunda do monopólio postal.
O monopólio postal
É importante esclarecer que o monopólio se refere a cartas, incluindo os boletos, faturas, malotes, telegramas. Diferente do que muitos pensam, o sedex não é monopólio, isto é um erro grotesco. As encomendas são de livre concorrência. Por isso, diversas empresas atuam no segmento.
Apesar de atualmente não dar a sustentabilidade econômica necessária para a manutenção total da empresa, o monopólio de cartas correspondente ainda a 50% da receita, e poderia render muito mais se houvesse investimento para isso. Apesar das tecnologias que surgem a entrega de cartas no Brasil é lucrativa sim! Tendo em vista que maior parte da população sequer tem acesso a estas tecnologias.
Além de lucratividade, manter o monopólio postal é de suma importância, pois ele garante a universalização dos serviços, atuando socialmente e levando os Correios aos mais longínquos rincões. Atuando como um integrador nacional.
Logo, é o monopólio que garante que os Correios seja a empresa com tamanha capilaridade. Atuando em mais de 5.500 municípios, além de empregar mais de 115 mil pessoas.
Desta maneira, atacar o monopólio postal é atacar o direito da população de ter acesso ao serviço dos Correios.
Desmistificando a crise
Pra começar. Diferente do que muitos erroneamente pensam os Correios não dão nenhum prejuízo à União, ao contrário, os Correios repassam para o Governo parte dos seus lucros. Então não cometam este erro de dizer que os Correios é um elefante branco, por favor!
Divergindo da política midiática dos Correios, é importante destacar que a receita da empresa só aumenta ano a ano.
A receita cresce, mas a “crise tá batendo na porta”! Como pode? Lembra do início do texto? O motivo das crises?
Com uma receita crescente não é difícil de compreender que inúmeras são as tentativas do “privado” abocanhar “o leque público” para manter a roda do sistema capitalista. Nesta intenção muitas são as ações executadas ao longo do tempo.
Afundando o barco
Comecemos pelas agências franqueadas. O fenômeno que se vê são próprias e lucrativas sendo fechadas para abrir espaços para as franqueadas. Os Correios abrem mão da rentabilidade para ceder aos parceiros. Os defensores das franqueadas dirão que os serviços das franqueadas são personalizados ao cliente. Sim, são. Mas os Correios também poderiam atuar com serviços personalizados. O fechamento de agências, além de prejudicar a população, ainda dá prejuízo aos cofres da empresa.
Como aumentar receitas se recentemente aos Correios, através da sua nova reestruturação, tem dispensado seus assistentes comercias, ou seja, seus vendedores de serviços, demonstrando total desinteresse em captar clientes e obter lucro?
A possibilidade de banco próprio dos Correios tem sido jogada no lixo para atuar como correspondente, que na maior parte beneficia ao banco, e não aos Correios. Mas as mazelas do serviço ficam para a ECT, devido a falta de segurança e as consequentes doenças ocupacionais. Os bancos estão se saindo bem, os Correios não!
A área de encomendas tem sido outro alvo do desmonte dos Correios e no surgimento da crise, assim como as agências próprias. Os CEE’s aos poucos estão se transformando em CDD’s. Para bom entendedor isso já explica tudo. A intenção da empresa é criar subsidiárias e fazer parcerias com outras pequenas empresas, através da CorreiosPar. Um fenômeno parecido com as franquias. Abrindo mão do "centro de encomendas próprio" para ceder à iniciativa privada. Cabe frisar que o "supra sumo" postal é o segmento encomendas, que cresceu significativamente com o comércio eletrônico. Mas uma fonte de lucro da empresa pronta pra ser entregue aos "parceiros".
As alterações nas regras de contabilidade geraram impactos negativos torno de 1,5 bi por ano com o lançamento do pós emprego. Este lançamento não é obrigatório para os Correios, geralmente é adotado em empresas que detêm acionistas. Bem, se não é obrigatório, o lançamento só deixa clara a intenção de abrir o capital da empresa. Por isso a modificação das regras contábeis.
Alterações no plano de saúde - mudança na gestão do plano quase que triplicou os gastos. A criação da Postal Saúde custou para os Correios a bagatela de mais de 1 bi. Apesar da contrariedade e críticas de todo o movimento sindical sobre esta mudança de gestão, a ECT criou um atravessador, a Postal Saúde. Hoje “alega” que o plano de saúde é o culpado pela crise financeira! Bem, fomos contra esta mudança, que triplicou os gastos, e agora a culpa é nossa, dos empregados?
A situação do plano é tão suspeita que mesmo na Comissão paritária, grupo de estudo criado pelo TST, a empresa não abriu a caixa de pandora para a representação dos trabalhadores alegando confidencialidade.
Mas vejamos!
- Parte das reservas da empresa foram enviadas para o Governo Federal, quase 4bi, fazendo falta para o fortalecimento da empresa;
- Um distrato com o Banco do Brasil foi feito à toa, para depois continuar atuando com o mesmo banco, só que com um prejuízo de 2 bi para os Correios pagar;
- Além de milhões em patrocínios;
- Segmentos lucrativos de serviços sendo transferidos para a iniciativa privada;
- Falta de investimentos para qualidade operacional e na contratação de empregados para bem atender aos clientes com eficiência e rapidez.
Aí vem a pergunta: “Tem crise mesmo, ou é proposital? Porque quem é bom da cabeça não anda rasgando dinheiro, ou dispensando serviço, não é mesmo?
Correios privatizado, povo prejudicado.
A crise nos Correios é de gestão. Está claro que os Correios foram dilapidados para justificar uma privatização. Tudo sendo entregue aos poucos através de "reestruturações". A qualidade dos serviços caíram e com isto ganha força entre a sociedade a "contrariedade" da manutenção como empresa pública. Não dá pra tirar a razão do cliente vendo tamanha negligência por parte empresa. Porém, com este discurso de crise os Correios levam a sociedade ao erro. A empresa não tem crise. Basta constatar a incoerência das ações e alegações da administração.
Má gestão e indicações partidárias danosas que comprometem a saúde financeira, isso não podemos negar. Isto tem! Esta é a real crise dos Correios.
Com o desmonte dos Correios quem perde é toda a sociedade, desde o empresário ao aposentado, do Oiapo ao Chuí.
Perdem também os empregados, que sofrem com a falta de condições de trabalho, ameaças de demissão, direitos retirados, assédio moral.
Por onde seguir
Apesar de todos estes ataques patrocinados pelo próprio governo, não só esse, mas os anteriores também, os empregados (as) estão resistindo para manter os serviços, e ainda são criticados pelas greves e protestos.
Devemos continuar denunciando o fechamento de agências, pois entendemos que o enfraquecimento dos Correios desencadeará um efeito cascata prejudicial na economia de muitos municípios, pois em diversas localidades os Correios são a única instituição presente. Além disso, defendemos a entrega diária, no prazo, em todas as localidades aumentando a comunicação e integração nacional.
Nesta conjuntura é preciso a politização da classe trabalhadora em geral. Deixar de resmungar e ser um agente transformador.
Dar conta do serviço é importante, mas é preciso também atuar politicamente. Participando ativamente das ações do seu sindicato. Marcar presença nas atividades em defesa dos Correios e dos nossos direitos, seja nas câmaras municipais, assembleias estaduais, congresso Federal, junto aos governadores e prefeitos. Precisamos unificar, pois, juntos somos mais fortes! É preciso resistir para o bem dos ecetistas e de todo o país! O fim dos Correios só serve a alguns "interessados".
Suzy Cristiny da Costa
Secretária de imprensa da Fentect
Secretária de Assuntos jurídicos do SINTECT ACRE
Representante do MOVIMENTO SINDICAL DE BASE/Bloco atuação sindical.
Formanda em Direito pela UFAC.
Colunista do Blog Mundo Sindical Correios - Todas às Quarta-feira
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