Se por um lado os atos ocorridos no passado não são responsabilidade do atual presidente dos Correios ou da atual direção do Postal Saúde, a conta também não pode ser repassada aos trabalhadores, que têm o plano como um benefício para si e seus familiares. Benefício este conquistado à custa da luta e união dos trabalhadores em prol de seus direitos e que é cláusula do Acordo Coletivo de Trabalho.
Um benefício não pode trazer prejuízo a quem o usufrui, já que trata-se justamente de um incentivo, uma forma de promover o bem-estar do empregado. Quem lutou para ter direito a uma saúde digna não pode pagar pelo ilícito de maus gestores que, inclusive, respondem à processos judiciais por irregularidades no plano. Estes valores têm que ser reavidos de quem de fato os retirou da empresa e não de trabalhadores honestos e suas famílias.
Do ponto de vista empresarial, os trabalhadores são o capital humano de uma organização, a força de trabalho que gera os resultados almejados em seu planejamento estratégico. Preocupar-se com a saúde dos empregados e suas famílias é, portanto, obrigação de gestores que administram a organização, pois visa o aumento da produtividade e a diminuição do absenteísmo, além de incentivar a retenção de talentos.
Na disputa entre forças sindicais e representantes da empresa, os trabalhadores é que sentirão o peso das decisões. Voltamos de uma greve recente em que um acordo, no mínimo polêmico, mostrou que a luta pela manutenção das atuais regras do Plano de Saúde e cláusulas do ACT será ainda mais árdua. Esperamos que os dirigentes sindicais ajam com responsabilidade na mesa de negociação e saibam aglutinar forças fazendo bem o trabalho de base tanto na área operacional quanto no administrativo, pois todos são empregados dos Correios e todos serão afetados por eventuais mudanças.
No mínimo que se tente um acordo no TST que seja menos lesivo aos trabalhadores do que o proposto atualmente. Que se reveja os percentuais propostos que sobrecarregam os trabalhadores, especialmente os com muitos filhos, com uma barganha, quem sabe, pelo aumento do compartilhamento. Que se escute os trabalhadores e suas possibilidades de contribuir, já que a imposição do TST pelo pagamento é um fato. Fato é também que se houver cobrança de mensalidade muitos vão optar por deixar o plano. Isso certamente trará reflexos para quem optar por ficar e deve ser um ponto de análise nas discussões na mesa de negociação.
Tudo isso deve pesar também na decisão dos dirigentes e representantes da empresa que acabaram de aprovar a nova Estratégia Correios, em que se descreve como Valores a Integridade, o Respeito às Pessoas, o Orgulho em pertencer aos Correios e a Orientação para o futuro. A cultura organizacional não é algo que se cria por normas e memorandos e sim algo vivenciado no dia a dia das atividades de trabalho de cada um dos empregados. Se a empresa quer realmente engajar e motivar os trabalhadores para que eles se tornem “agentes da mudança” e incorporem os valores na prática da nova estratégia, deve se pautar em primeiro lugar pelas pessoas -ou na linguagem empresarial, por seus colaboradores-, não apenas pelo vil metal.
Michele Barros
Jornalista concursada dos Correios
Dirigente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Colunista do Blog Mundo Sindical Correios
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