Um projeto antigo que voltou com força total
Em meio a discursos de “modernização” e eficiência, ressurge a proposta de privatizar os Correios. O economista Paulo Kliass, em artigo no site Outras Palavras, denuncia como esse plano atende diretamente aos interesses do mercado financeiro e de grandes corporações, colocando em risco um dos serviços públicos mais estratégicos do Brasil.
De acordo com Kliass, essa ideia faz parte de uma velha cartilha neoliberal: sucatear, desvalorizar e, por fim, vender o patrimônio público. Mas os fatos mostram que os Correios estão longe de serem uma estatal ineficiente. Nos últimos 15 anos, acumularam um saldo positivo de R$ 2,8 bilhões. Em 2020, mesmo com a pandemia, o lucro ultrapassou R$ 1,5 bilhão.
Correios: mais que uma empresa, um serviço essencial
Os Correios não são apenas uma empresa de entregas. São uma ferramenta vital de integração nacional. Estão presentes em 5.570 municípios, entregam livros escolares, vacinas, remédios e até urnas eletrônicas. É o Estado brasileiro chegando onde o mercado nunca vai querer chegar.
A privatização ameaça essa presença nacional. Com a lógica do lucro acima de tudo, regiões menos rentáveis correm o risco de serem excluídas do atendimento postal — e isso já aconteceu em outros países.
O que o mundo aprendeu com seus próprios erros
Antes de repetir o discurso privatista, o Brasil deveria olhar para fora. Diversos países já entregaram seus serviços postais ao setor privado — e hoje lidam com os prejuízos sociais, econômicos e políticos.
Reino Unido — Royal Mail
- Privatizada em 2013.
- Resultado: tarifas aumentaram, a qualidade caiu, postos de trabalho foram cortados.
- Em 2022, a Royal Mail enfrentou uma das maiores greves da sua história.
- Hoje, cresce o movimento pela reestatização.
Alemanha — Deutsche Post / DHL
- Apesar dos lucros globais, a qualidade do serviço postal foi afetada.
- Áreas rurais foram negligenciadas.
- Trabalhadores enfrentam jornadas cada vez mais precarizadas.
Austrália — Australia Post
- Mesmo sem privatização total, a gestão orientada pelo lucro gerou fechamento de agências e demissões.
- Comunidades remotas ficaram desassistidas.
Canadá
- Após reformas liberalizantes, o país viu o serviço postal piorar.
- Houve reação da sociedade e o governo foi forçado a recuar na privatização.
Esses casos mostram um padrão: a lógica privada não combina com a missão pública de universalizar o serviço postal. O que é lucrativo nas grandes cidades não se sustenta nas pequenas — e quem sofre é o povo.
Correios no Brasil: soberania em risco
O artigo de Outras Palavras também levanta uma questão jurídica importante. Segundo a Constituição Federal (art. 21, inciso X), é competência da União manter o serviço postal. Privatizar os Correios, portanto, exige até uma mudança constitucional — e isso não pode ser feito de forma apressada e sem debate amplo com a sociedade.
Além disso, a entrega dos Correios ao capital privado abre espaço para que empresas como Amazon, Mercado Livre e Alibaba dominem a logística nacional. E o interesse dessas multinacionais não é garantir cidadania ou integração territorial, mas maximizar lucros.
Defender os Correios é defender o Brasil
A história internacional está cheia de exemplos que o Brasil não precisa repetir. A privatização dos Correios pode parecer vantajosa no papel, mas, na prática, ela atinge os mais vulneráveis, exclui regiões inteiras e transforma um serviço público essencial em um negócio voltado para poucos.
Os Correios são patrimônio nacional, fruto do esforço coletivo de gerações de trabalhadores. Defender essa empresa é defender a soberania, a inclusão e o papel social do Estado.
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