Já estamos em outubro, e o Acordo Coletivo de Trabalho 2025/2026 dos Correios continua parado. Nenhum avanço concreto foi divulgado, e o que domina entre os trabalhadores é um misto de incerteza e indignação. A empresa enrola, adia reuniões, evita dar informações claras — e as federações, Fentect e Findect, seguem com pouca mobilização e comunicação com a base.
Nos dois últimos ACTs, os trabalhadores dos Correios foram compreensivos. Aceitaram reajustes que só chegaram no início do ano seguinte, permanecendo por mais de seis meses com o mesmo salário, mesmo diante da inflação e da perda do poder de compra. A categoria cooperou, entendeu o momento delicado da empresa e do país, mas até quando esse sacrifício vai continuar?
A proposta de jornada 12x36: um golpe travestido de “modernização”
Entre as possíveis mudanças que circulam nos bastidores, a mais grave é a proposta de mudança na jornada de trabalho. A empresa quer implantar o regime 12x36, o que significaria trabalhar 12 horas seguidas por 36 de descanso — uma escala que, na prática, aniquila a vida social e familiar dos carteiros, além de trazer riscos sérios à saúde física e mental.
Os carteiros seriam os mais prejudicados. Essa categoria já sofre com o peso da idade média elevada e com anos de sobrecarga física. Trabalhar 12 horas seguidas, enfrentando sol, chuva e pressão por metas, é desumano. Além disso, essa mudança retira o adicional de 15% recebido por quem trabalha aos sábados, reduzindo o salário real e empurrando ainda mais o trabalhador para o limite da exaustão.
Trata-se de uma tentativa de “modernizar” o trabalho às custas da saúde e dos direitos da categoria. Um modelo que serve ao interesse da empresa, mas que destrói a dignidade de quem carrega a estatal nas costas todos os dias.
Alguns membros da diretoria da Fentect já declararam publicamente que são contra o regime 12x36 — e isso é importante —, mas até o momento a federação não apresentou uma posição oficial sobre o tema.
Já a Findect, por outro lado, declarou que vai “analisar” a proposta antes de se manifestar — o que tem gerado fortes críticas entre os trabalhadores, já que a grande maioria é contrária à mudança. A dúvida é inevitável: o que significa “analisar”? Significa preparar uma contra-proposta? Ou significa que há setores dentro da federação dispostos a negociar a aceitação do 12x36? Essa ambiguidade só aumenta a desconfiança e fragiliza a unidade da categoria.
O silêncio que preocupa: falta de mobilização e transparência
Mais do que o silêncio político, o que preocupa é o silêncio na mobilização. As federações não estão chamando os trabalhadores para assembleias ou reuniões de esclarecimento sobre as negociações. Falta transparência, e o pouco que se sabe vem de comentários soltos ou de comunicados genéricos.
O que menos se vê nas redes sociais das federações são informações sobre o andamento das negociações. É uma contradição: o Blog dos Correios (oficial da empresa) tem publicado mais informações e atualizações sobre o Acordo Coletivo do que as próprias federações. Isso é preocupante, porque a informação é um instrumento de poder — e quando é a empresa quem detém o controle da narrativa, os trabalhadores acabam acreditando mais na versão institucional do que nas suas representações sindicais.
E fica a pergunta: cadê as atas das reuniões? Por que não são mais divulgadas? Essa falta de transparência gera desconfiança. O que está sendo discutido? O que está sendo proposto? O que estão escondendo dos trabalhadores?
Erros de gestão não podem cair sobre o trabalhador
A categoria dos Correios não pode pagar a conta dos erros administrativos — sejam das gestões passadas ou da atual. O déficit financeiro da empresa, os problemas de gestão e a falta de investimentos não podem ser “corrigidos” com o sacrifício dos carteiros, atendentes e operadores postais. O trabalhador já fez sua parte. E não é de hoje que coopera, cumpre metas e mantém a empresa viva mesmo diante de políticas equivocadas.
Hora de transparência e ação
O que falta, neste momento, é clareza e mobilização. As federações precisam falar abertamente com a categoria, apresentar os pontos discutidos, divulgar as atas das reuniões, esclarecer se existe de fato uma proposta sobre a jornada 12x36 e, principalmente, ouvir a base antes de qualquer decisão. A enrolação e o silêncio só favorecem a empresa — e desgastam ainda mais a confiança dos trabalhadores nas suas representações.
Os trabalhadores dos Correios merecem respeito, informação e participação. Não dá mais para aceitar que as negociações aconteçam a portas fechadas, enquanto quem carrega a empresa nas costas é deixado no escuro.
✍️ Por Junior Solid
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