Jornada nos Correios: inovação ou precarização disfarçada de modernização?

Quando se fala em “modernização das jornadas”, o discurso parece bonito: mais flexibilidade, qualidade de vida, produtividade e até inovação. Mas, quando olhamos de perto, percebemos que nem todas as áreas são tratadas da mesma forma — e que os trabalhadores da linha de frente, justamente os mais sacrificados, são os que correm maior risco de perder.

E vale lembrar: isso ainda é apenas proposta da empresa, apresentada em mesa de negociação. Nada muda sem a aceitação dos trabalhadores.


A diferença entre áreas

  • Área Administrativa: a empresa apresentou duas alternativas:
    1. Jornada híbrida (4 dias presenciais + 1 em home office).
    2. Semana de 4 dias (100% do salário e da produtividade, trabalhando 80% do tempo).
    Ambas significam mais qualidade de vida e flexibilidade.
  • Agências (Atendimento): escala 4x3 (10h por 4 dias, 3 dias de descanso). É puxada, mas ainda garante períodos de recuperação.
  • Distribuição (Carteiros): escala 12x36, a mais pesada de todas, colocando trabalhadores já adoecidos em jornadas de 12h nas ruas, noites, sábados, domingos e feriados.

Ou seja: quanto mais perto da rua e do esforço físico, piores as condições propostas.


E os benefícios, como ficam?

Esse é o ponto que a nota técnica não detalha e que pode trazer grandes perdas:

  • Vale Refeição/Alimentação (VR/VA): risco de redução se a empresa vincular o benefício apenas aos dias efetivamente trabalhados.
  • Vale Transporte: a própria nota fala em “redução de custos” nesse item. Na prática, pode significar menos direito para o trabalhador.
  • Adicionais (15% aos sábados, horas extras, adicional noturno): na escala 12x36, o trabalho em finais de semana e feriados entra na jornada normal, eliminando os extras. Ou seja: perda direta de renda.
  • Férias, 13º, FGTS e INSS: seguem garantidos pela CLT, mas como a base de cálculo cai sem os adicionais, o prejuízo é indireto e cumulativo.

O que está em jogo

A empresa vende as mudanças como uma forma de “se igualar ao mercado”. Mas o mercado privado de logística é conhecido justamente pela precarização: terceirização, jornadas exaustivas, baixos salários e quase nenhum benefício. Será que os Correios, uma empresa pública, devem seguir esse mesmo caminho?

  • Os administrativos ganham duas opções benéficas (híbrido ou semana de 4 dias).
  • Os atendentes ainda conseguem 3 dias de descanso com o 4x3, apesar da carga pesada.
  • Mas os carteiros, que já enfrentam doenças físicas, violência e estresse, ficariam com a conta mais cara: mais horas, menos adicionais, perda de vida social e redução indireta de salário.

Privatização no horizonte

Não é coincidência que, enquanto isso acontece, a grande mídia pressiona por privatização. Em setembro de 2025, editoriais da Folha, Estadão e O Globo falaram em “urgência” de vender os Correios. Esse movimento é típico:

  1. Primeiro, precarizam a base e mostram uma empresa “doente”.
  2. Depois, a mídia amplifica a ideia de que “não há saída” além da privatização.
  3. Por fim, tentam convencer a sociedade de que o serviço público não funciona.

Ou seja, impor jornadas desumanas como a 12x36 pode ser também um passo estratégico rumo à privatização. Enquanto os carteiros adoecem, a opinião pública é preparada para aceitar a entrega da estatal ao setor privado.


Conclusão

Não podemos aceitar que a palavra “inovação” signifique precarização da base e preparação para privatização. Os Correios precisam de mudanças? Sim. Mas mudanças que melhorem a vida de todos os trabalhadores, e não apenas de quem está atrás de uma mesa.

É urgente que os sindicatos exijam clareza:

  • Como ficam tickets, vales e adicionais nas novas jornadas?
  • Haverá redução disfarçada de salários?
  • Qual o impacto real na saúde física e mental dos carteiros?
  • E mais: essas mudanças são para melhorar os Correios ou para enfraquecê-los até que a privatização pareça inevitável?

Sem essas respostas, o que está sendo apresentado não é modernização — é apenas mais uma tentativa de cortar custos às custas de quem já sofre e abrir caminho para entregar os Correios ao mercado.


✍️ Por Junior Solid

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