Entrega Unificada nos Correios: o que está acontecendo?

Nos últimos meses, uma nova prática vem se espalhando pelas unidades dos Correios: a chamada Entrega Unificada. Embora não haja uma norma clara e divulgada nacionalmente pela empresa sobre o assunto, a realidade vivida pelos trabalhadores tem sido marcada por mudanças na dinâmica de distribuição postal — muitas vezes sem explicações formais, sem planejamento transparente e, principalmente, sem diálogo com os sindicatos.

O modelo, na prática, envolve o remanejamento de carteiros entre unidades distintas para cobrir lacunas ou demandas específicas. Em algumas regiões, o trabalhador é deslocado de sua unidade de origem e passa a atuar em setores de outro bairro ou até mesmo em cidades próximas. Trata-se, portanto, de uma reorganização forçada da força de trabalho, que tem gerado desconforto, insegurança e muitos questionamentos.

Reunião do SINTECT-SP revela insatisfação

Durante reunião promovida pelo SINTECT-SP, diversas queixas foram levantadas a respeito dessa prática. Segundo os relatos, trabalhadores estão sendo emprestados para outras unidades sem justificativas plausíveis.

A principal crítica diz respeito à incoerência da medida: se a empresa alega que a carga postal está diminuindo, por que há necessidade de emprestar carteiros entre setores? Por que um CDD precisa socorrer outro, se ambos enfrentam redução de volume de objetos? O que se observa, segundo os trabalhadores, é desorganização, falta de pessoal e ausência de critérios claros.

Além disso, há relatos de casos em que o empréstimo de carteiros tem ocorrido sem consulta prévia aos envolvidos e sem qualquer tipo de compensação ou transparência.

Link Sugerido: Reunião com Superintendência: SINTECT-SP leva denúncias sobre precarização e cobra respostas dos Correios

FINDECT denuncia imposição sem diálogo

A insatisfação não se restringe aos trabalhadores da base. Em 22 de julho de 2025, a FINDECT publicou uma nota oficial criticando duramente a aplicação da Entrega Unificada.

Segundo a federação, a medida vem sendo implementada sem qualquer discussão com os sindicatos e sem considerar os impactos sobre as condições de trabalho.

“A Entrega Unificada está sendo colocada em prática sem diálogo com os sindicatos** e sem participação dos trabalhadores, o que fere princípios democráticos dentro da gestão pública”, destaca a nota oficial da FINDECT.

A federação exige a suspensão imediata da medida até que seja realizada uma discussão séria e transparente com os representantes da categoria.

Fonte oficial: FINDECT cobra suspensão da Entrega Unificada

Nosso questionamento: por que emprestar carteiros?

Uma questão levantada por diversos trabalhadores e ecoa entre quem vive a realidade das ruas:

“Se a carga caiu numa unidade, por que não caiu também na outra? Por que emprestar carteiros se estamos todos passando pela mesma situação?”

Esse tipo de prática escancara a falta de planejamento estratégico por parte da direção da empresa. A lógica parece ser improvisar e deslocar trabalhadores conforme as pressões de cada unidade, sem atacar o verdadeiro problema: a falta de efetivo e a precarização do trabalho.

O que está em risco?

Com a Entrega Unificada sendo aplicada de forma improvisada, os riscos são evidentes:

Sobrecarga de trabalho em setores mais movimentados;
Prejuízo à organização interna das unidades;
Desvalorização da função do carteiro, tratado como peça que pode ser movida sem critério;
Desrespeito ao direito de consulta prévia ao trabalhador sobre sua realocação.

O que os trabalhadores defendem

O movimento sindical é claro: ninguém é contra melhorias na entrega ou uma reorganização que vise beneficiar a população e os próprios trabalhadores. O problema está na forma como isso está sendo feito: de maneira autoritária, sem debates, e com decisões unilaterais que desconsideram o acúmulo histórico de lutas da categoria.

É hora de suspender a Entrega Unificada, iniciar um debate transparente com os sindicatos, apresentar dados reais sobre as unidades e, principalmente, respeitar a dignidade e a autonomia dos trabalhadores dos Correios.

✍️ Por Junior Solid

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