A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos anunciou recentemente uma nova funcionalidade no SGPD – Sistema de Gestão do Processo de Distribuição, que promete ampliar a eficiência da operação por meio do mapeamento do trajeto dos carteiros, com georreferenciamento ponto a ponto. A ferramenta oferece dados como:
- Distância total percorrida
- Velocidade média
- Entregas previstas e realizadas
- Taxa de sucesso
- Lista completa dos objetos entregues, com hora, coordenadas e status
Embora a novidade tenha sido apresentada como um avanço na gestão operacional, a medida acendeu um alerta entre os trabalhadores da base, especialmente os carteiros.
Entre controle e confiança: onde está o equilíbrio?
Por décadas, uma das maiores características da função de carteiro foi a liberdade de atuação nas ruas. A confiança era construída com base na responsabilidade individual e no compromisso com a população. O profissional cumpria sua missão com autonomia e, enquanto mantinha bom desempenho e disciplina, havia respeito mútuo entre ele e a gestão.
No entanto, com o novo recurso de rastreamento ponto a ponto, a liberdade que antes era um diferencial positivo da profissão começa a ser minada, substituída por um modelo de vigilância que lembra mais o controle de produtividade de aplicativos de entrega do que a relação pública entre Estado e servidor.
O risco da cobrança desumana e o assédio moral disfarçado
A grande preocupação não está na tecnologia em si, mas na forma como será usada. Dados como velocidade média e rotas percorridas podem facilmente se transformar em instrumentos de pressão e assédio moral institucional, ainda que de forma indireta.
Monitorar ponto a ponto um trabalhador sem diálogo prévio e sem critérios claros já é, por si só, uma forma de assédio. Instala-se o medo, a insegurança, o risco constante de ser punido mesmo realizando seu trabalho corretamente. O carteiro deixa de ser avaliado pelo conjunto do seu esforço e passa a ser julgado por gráficos e coordenadas.
Esse tipo de controle afeta a saúde mental e emocional do trabalhador e contraria o princípio de confiança e respeito que deveria existir em qualquer ambiente de trabalho.
Tecnologia deve apoiar, não vigiar
A modernização da gestão não pode ser feita à custa do bem-estar do trabalhador. É preciso que os dados gerados pelo sistema sirvam para melhorar a organização e as condições de trabalho, e não para punir e restringir a autonomia de quem está na linha de frente todos os dias.
Para que essa ferramenta traga benefícios reais, é essencial que:
- Haja transparência sobre o uso das informações
- Os dados não sejam usados como instrumento de assédio moral ou punição
- Os sindicatos e os trabalhadores sejam ouvidos e incluídos no processo
- Seja garantida a preservação da dignidade e do equilíbrio mental dos carteiros
O que está em jogo é mais do que tecnologia
A discussão não é apenas sobre uma nova funcionalidade digital. É sobre o modelo de relação entre empresa e trabalhador. Sobre o respeito a uma categoria que já perdeu muito nos últimos anos: plano de saúde, tickets, direitos do Acordo Coletivo e agora, sua autonomia.
O carteiro precisa de respeito, não de vigilância. O que está em jogo é a qualidade de vida de milhares de trabalhadores e o futuro de um serviço postal público, humano e eficiente.
✍️ Por Junior Solid
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