ACT 2025/2026 nos Correios: medo do dissídio ou leitura errada do cenário?

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos divulgou, por determinação do ministro do TST, o Primeira Hora Extra com a proposta de conciliação para o ACT 2025/2026. O documento é público, oficial e detalhado. Mesmo assim, parte de diretores sindicais e de federações insiste em espalhar a ideia de que, se a proposta for rejeitada e o caminho for o dissídio coletivo, “o TST vai tirar tudo”.

Essa narrativa merece ser analisada com calma, memória histórica e os pés bem fincados na realidade.


O que a proposta do TST realmente mostra

Ao contrário do discurso alarmista, a proposta revela algo objetivo: a empresa demonstra capacidade financeira para bancar um acordo de dois anos. Estão preservados, entre outros pontos:

  • Reajuste de 100% do INPC no 1º e no 2º ano;
  • Adicional de férias de 70%, mantido integralmente;
  • Manutenção do vale-alimentação/refeição, sem redução de valores;
  • Preservação do plano de saúde;
  • Licenças maternidade e paternidade estendidas;
  • Auxílios sociais e cláusulas operacionais amplamente renovadas.

Isso não é promessa vaga. Está escrito, formalizado e validado no processo de mediação.

A pergunta que salta aos olhos é simples, quase óbvia:

👉 Se há dinheiro para sustentar um ACT de dois anos, por que não haveria para pagar o retroativo deste ano e o vale-peru?

Essa conta não fecha quando se olha apenas para os números.


De onde vem o medo do dissídio coletivo?

O receio não surgiu do nada. Ele nasce de experiências amargas, especialmente do período pós-2016 e, principalmente, durante o governo Bolsonaro, quando:

  • Dissídios foram usados para retirar direitos históricos;
  • O Judiciário Trabalhista atuou sob forte pressão fiscalista;
  • A lógica era de ajuste nas costas do trabalhador.

Esse trauma é real. Mas o erro está em fingir que o contexto político e institucional é o mesmo.


O governo atual não é neutro — e isso importa

Não se trata de ingenuidade, mas de leitura política.

O Brasil hoje não vive um governo hostil ao movimento sindical como no passado recente. O presidente Lula tem uma trajetória histórica ligada à luta dos trabalhadores e já demonstrou, em outros momentos — como em 2008 — disposição para intervir a favor da classe trabalhadora.

Haddad e Rui Costa não atuam acima do presidente nem fora desse contexto político. E mais: a imagem pública de Lula, interna e internacionalmente, depende da coerência com sua história.

Isso não significa confiança cega.
Significa reconhecer que o cenário é diferente.


Quando o medo vira estratégia

Ao repetir que “no dissídio perde tudo”, alguns dirigentes acabam produzindo efeitos concretos:

  • Desmobilizam a categoria;
  • Empurram a aceitação de qualquer proposta em nome da “segurança”;
  • Transformam o TST em um espantalho conveniente.

Nesse ponto, cabe a pergunta incômoda:

👉 a quem interessa espalhar o medo?

Certamente, não ao trabalhador.


Sindicato não existe para proteger governo

Aqui está o ponto central.

Mesmo em governos progressistas, não é papel do sindicato proteger o governo. Sindicato existe para:

  • Defender direitos;
  • Lutar por salários dignos;
  • Pressionar, negociar e arrancar avanços.

Historicamente, os maiores ganhos da classe trabalhadora ocorreram quando houve pressão organizada, inclusive sobre governos aliados.

Confundir lealdade política com submissão sindical é um erro que a história já ensinou caro.


Dissídio não é sentença automática de derrota

Dissídio coletivo não significa, automaticamente, retirada de direitos — sobretudo quando:

  • Os benefícios estão consolidados;
  • A empresa admite capacidade financeira;
  • O ambiente político é menos hostil;
  • A categoria está atenta, organizada e mobilizada.

Medo paralisa.
Consciência organiza.


Sem medo, Sem ingenuidade

Ninguém está defendendo aceitar qualquer coisa.
Ninguém está propondo confiança cega.

Mas também não podemos aceitar o discurso do terror, como se o Brasil ainda estivesse sob um governo declaradamente inimigo dos trabalhadores.

Sindicato forte é aquele que questiona, pressiona e não se curva — nem ao patrão, nem ao governo.

Como sempre foi.
Como sempre funcionou.

E quem trabalha nos Correios sabe: o caminho é difícil, mas não se anda para trás por medo de sombra.


✍️ Por Junior Solid

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