De 1985 a 1988: a resistência dos carteiros e o orgulho de uma categoria

No recente episódio do Radar Podcast, apresentado por Ribamar Passos, o convidado foi Mário César Barbosa Conceição, o conhecido Barbosinha dos Correios. Ele falou com emoção sobre a trajetória de luta da categoria, recordando greves históricas que marcaram a memória dos carteiros e mudaram o rumo da organização sindical no Brasil.

Entre as mais lembradas, estão a greve de 1985 e a greve de 1988 — dois momentos que mostram a força coletiva de quem, mesmo diante da fome, da pressão política e da repressão institucional, se manteve firme na luta por dignidade.


A greve de 1985: um divisor de águas

Em 1985, o Brasil vivia o início da redemocratização, após o fim da ditadura militar. Foi nesse cenário que os trabalhadores dos Correios protagonizaram uma das primeiras greves de grande impacto da Nova República.

Começando em São Paulo e se espalhando para outros estados, a paralisação durou cerca de 30 dias e tinha pautas claras: salário digno, melhores condições de trabalho, aposentadoria, estabilidade no emprego, fim das demissões políticas e manutenção do monopólio postal.

Essa mobilização consolidou a articulação sindical da categoria, mostrou a importância das assembleias e serviu de inspiração para movimentos futuros. Foi também um recado direto ao governo: carteiro não é “mão-de-obra barata” e sabe se organizar.

Fonte: Sintect-SP – História da luta dos trabalhadores dos Correios


A greve de 1988: fome, resistência e orgulho

O vídeo recuperado da assembleia da greve de 1988 em São Paulo é pura memória viva. Nele, vemos carteiros denunciando salários miseráveis, dificuldades extremas para sustentar a família e a intransigência do então Ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, que condicionava a negociação ao fim da paralisação.

Depoimentos emocionantes mostram pais que não podiam comprar um simples iogurte para os filhos, trabalhadores vivendo com 21 a 28 mil cruzados por mês — valores que mal pagavam aluguel ou garantiam arroz e feijão.

Mesmo com 921 demissões já registradas, a categoria se manteve unida. A solidariedade de outras classes trabalhadoras — bancários, metalúrgicos, químicos — ajudou a sustentar a greve por meio de doações de alimentos e dinheiro. A mensagem era clara: 

“Só vamos voltar quando conquistarmos o que é nosso por direito.”

Essa greve, que durou mais de 25 dias, foi vista pelos carteiros da época como um símbolo de orgulho, pois foi enfrentada com coragem, organização e espírito coletivo.


O elo entre passado e presente

Ao relembrar esses episódios no Radar Podcast, Barbosinha não falava apenas de história — ele reforçava a importância da memória coletiva para a luta atual. Segundo ele, as bases dos anos 2000 ainda se inspiravam no exemplo dos carteiros que enfrentaram a fome e o desemprego sem abrir mão da dignidade.

Essas histórias mostram que cada assembleia, cada piquete, cada grito de “a greve continua” ajudou a construir a identidade combativa da categoria. Hoje, lembrar 1985 e 1988 é também reafirmar que os Correios pertencem ao povo e aos seus trabalhadores, e que qualquer ameaça de retrocesso será enfrentada com a mesma coragem.


Conclusão

As greves de 1985 e 1988 não foram apenas episódios de enfrentamento salarial — foram capítulos de resistência social em um Brasil que ainda aprendia a respirar democracia. O orgulho que Barbosinha e tantos outros sentem ao recordar esses momentos é um patrimônio imaterial da categoria.

A história dos carteiros é feita de suor, de passos dados sob sol e chuva, e de assembleias lotadas em praças e galpões. E, como o próprio vídeo da greve de 1988 mostra, é feita também de uma convicção inabalável: somente pela luta e pela união se conquista respeito.


✍️ Por Junior Solid

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