Entre 2001 e 2024, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) viveu altos e baixos financeiros, alternando períodos de grandes lucros com fases de fortes prejuízos. O que marca esse período, porém, é o contraste: enquanto a empresa acumulou bilhões de reais de lucro e transferiu parte significativa desses valores à União, hoje amarga sucessivos déficits e não conta com suporte proporcional do governo.
A era dos lucros (2001–2012)
Nos primeiros anos da década de 2000, os Correios consolidaram-se como uma das estatais mais rentáveis do país. De 2001 a 2012, a empresa somou mais de R$ 7 bilhões em lucros líquidos, com destaque para 2003 (+R$ 1,2 bi) e 2012 (+R$ 1,04 bi). O crescimento foi impulsionado pela expansão dos serviços postais, reajustes tarifários e, já no fim do período, pelo avanço inicial do comércio eletrônico.
Nesse mesmo período, a União recebeu repasses volumosos, na forma de dividendos obrigatórios e adicionais. Somente entre 2002 e 2013, os Correios transferiram cerca de R$ 6 a 8 bilhões aos cofres do governo federal, ajudando a compor o superávit primário da época. Esse dinheiro não retornou para a modernização da estatal, mas foi usado para outros fins fiscais.
Da virada ao prejuízo (2013–2019)
A partir de 2013, o cenário mudou. Tarifas não reajustadas, aumento das despesas trabalhistas, rombos previdenciários e o avanço da concorrência privada levaram a empresa ao vermelho. O prejuízo de 2015 (–R$ 2,1 bi) foi, até então, o maior da história. Mesmo assim, os Correios continuaram sustentando um patrimônio líquido positivo, graças aos lucros acumulados na década anterior.
Importante lembrar: justamente nessa fase difícil, os repasses à União foram interrompidos. A empresa, que já havia contribuído generosamente para o caixa do governo, ficou sozinha para lidar com sua reestruturação. Não houve aportes significativos de capital — pelo contrário, em 2018, a União ainda resgatou R$ 254 milhões da estatal, em um movimento inverso de “descapitalização”.
O alívio da pandemia e o novo colapso (2020–2024)
Em 2020 e 2021, os Correios voltaram a respirar. O boom do comércio eletrônico, impulsionado pelo fechamento das lojas físicas na pandemia, gerou lucros recordes: R$ 1,53 bi em 2020 e R$ 2,27 bi em 2021, o maior da história.
Mas não foi apenas o aumento das encomendas que garantiu esse resultado. A empresa também se beneficiou das perdas impostas aos trabalhadores após o dissídio coletivo de 2020, que retirou mais de 50 cláusulas do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). Entre as principais perdas estavam:
- o fim do adicional de 15% pelo trabalho aos sábados;
- a redução de 4 tíquetes no vale-refeição/alimentação;
- o corte do vale-cultura de R$ 50;
- e outras conquistas históricas da categoria.
Ou seja, o lucro extraordinário da pandemia teve como contrapartida um ataque direto aos direitos dos trabalhadores. Nesse mesmo período, os dividendos voltaram: R$ 251 milhões foram entregues à União em 2021.
O alívio, porém, foi curto. Em 2022 e 2023, a estatal voltou ao vermelho (–R$ 808 mi e –R$ 597 mi). E em 2024, veio o golpe mais duro: um prejuízo recorde de –R$ 2,6 bilhões, impactado pela “taxa das blusinhas” e pela queda nas receitas de importações. O patrimônio líquido despencou de R$ 8,5 bi (2021) para apenas R$ 3,7 bi (2024).
Por que a União não ajuda os Correios hoje?
O contraste é evidente: ao longo de duas décadas, os Correios foram uma das estatais que mais repassaram dividendos à União, sustentando o caixa do governo federal. Agora, quando enfrenta sua maior crise, a empresa não recebe apoio na mesma medida.
Os motivos são múltiplos:
- Política fiscal restritiva: o governo prioriza superávit e cortes de gastos, evitando aportes em estatais.
- Visão de “empresa deficitária”: o discurso oficial foca nos prejuízos recentes, ignorando os anos de lucro e contribuição.
- Debate sobre privatização: a falta de investimentos pode ser usada como argumento para entregar a estatal ao setor privado.
Em resumo, os Correios foram, durante anos, fonte de recursos para o Tesouro Nacional, mas hoje não encontram reciprocidade. A União cobrou os dividendos na época da bonança, mas se ausenta na crise — deixando os trabalhadores e a população reféns de uma empresa estratégica, porém fragilizada.
Fontes
- Demonstrações Financeiras dos Correios (2001–2024, PDFs oficiais).
- Relatórios da CGU e análises do TCU.
- UOL Confere – checagem de lucros e prejuízos auditados.
- Estadão, Gazeta do Povo e CNN Brasil – cobertura sobre dividendos e recordes históricos.
Principais Anos:
Ano | Resultado (R$) | Observações |
---|---|---|
2001 | + 400 mi | Lucro sólido, início de crescimento |
2002 | + 600 mi | Lucro consistente, repasses à União |
2003 | + 1,2 bi | Lucro recorde, expansão serviços |
2012 | + 1,04 bi | Lucro alto antes da crise |
2015 | – 2,1 bi | Maior prejuízo até então |
2018 | – 161 mi | Resultado negativo, ainda sem apoio |
2020 | + 1,53 bi | Lucro na pandemia (boom e-commerce, ACT enxugado) |
2021 | + 2,27 bi | Maior lucro da história (pandemia, perdas de cláusulas do ACT) |
2022 | – 808 mi | Volta ao prejuízo |
2023 | – 597 mi | Déficit ainda controlado |
2024 | – 2,6 bi | Prejuízo recorde (queda importações, taxa blusinha) |
✍️ Por Junior Solid
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