Correios precisam de modernização, mas sem precarizar trabalhadores

Os Correios enfrentam um cenário desafiador. Gigantes como Amazon, Mercado Livre, Shopee e Shein conquistaram espaço no setor de encomendas com prazos curtos, tecnologia de rastreamento em tempo real e modelos logísticos simplificados. Para sobreviver e continuar cumprindo seu papel social, a estatal precisa se modernizar.

No entanto, há um ponto essencial: modernizar não pode significar precarizar. Copiar o modelo das plataformas privadas, baseado em motoristas MEIs sem direitos trabalhistas, seria um retrocesso. O desafio está em adotar ferramentas tecnológicas e práticas modernas de logística sem abrir mão da proteção ao trabalhador e da universalidade do serviço.


Comunicação e transparência

Um dos principais gargalos da experiência do consumidor com os Correios é o rastreamento das encomendas. Hoje, a mensagem genérica “Saiu para entrega” gera ansiedade e frustração, pois não dá previsibilidade ao cliente. A empresa poderia adotar sistemas de rastreamento mais inteligentes, oferecendo:

  • Previsão de horário de entrega, informando ao cliente uma janela de tempo provável, como acontece em aplicativos de transporte;
  • Atualizações em tempo real quando a encomenda estiver próxima do destino, avisando com antecedência de alguns minutos;
  • Aplicativo moderno, integrado com o sistema logístico, que permita acompanhar a rota em tempo real e receber notificações automáticas.

Essas soluções simples aumentariam a confiança do consumidor e deixariam a comunicação mais transparente, mostrando que os Correios podem ser tão modernos quanto as plataformas privadas.


Hubs urbanos e logística diferenciada

Hoje, uma encomenda percorre um caminho longo e burocrático: agência → centro de tratamento → CDD → carteiro → cliente. Esse vai-e-volta gera atrasos e aumenta os custos. Nos grandes centros urbanos, é possível simplificar esse processo por meio de hubs urbanos, que são pequenos centros de distribuição localizados dentro das cidades.

Nesses hubs, as encomendas de menor distância poderiam ser direcionadas diretamente do centro para o cliente, sem precisar passar por estruturas intermediárias. Isso ganharia velocidade, porque o fluxo ficaria mais curto e eficiente, reduzindo dias no prazo de entrega.

Além disso, a logística pode ser diferenciada de acordo com a região:

  • Capitais: implantar entregas rápidas (no mesmo dia ou no dia seguinte), frota urbana dedicada e até estoques avançados de produtos de alto giro;
  • Interior e áreas rurais: manter o modelo tradicional, priorizando custo-benefício e garantindo que todos os municípios sejam atendidos, sem exceção.

Dessa forma, os Correios aproveitam sua capilaridade única e garantem atendimento universal, algo que nenhuma empresa privada oferece.


Tecnologia a favor da estatal

A modernização passa também pela adoção de ferramentas tecnológicas. Entre as medidas possíveis estão:

  • Inteligência artificial para prever a demanda em cada região, evitando sobrecarga em determinados períodos e ajustando a logística com antecedência;
  • Lockers 24h em shoppings, supermercados e postos de gasolina, que permitem ao cliente retirar sua encomenda a qualquer hora do dia, sem depender da presença em casa;
  • Integração com marketplaces, como Amazon e Mercado Livre, oferecendo a opção “Correios Express” no momento da compra e tornando o serviço público uma alternativa competitiva para lojistas e consumidores;
  • Sistemas de roteirização que calculam a melhor sequência de entregas, reduzindo tempo de deslocamento e consumo de combustível;
  • Dashboards operacionais para monitorar gargalos em tempo real e redistribuir recursos quando necessário.

Essas iniciativas aumentariam a agilidade e a comodidade, mostrando que é possível combinar inovação com a missão pública dos Correios.


Contratos públicos, novos parceiros e plataformas

Além da modernização operacional, os Correios têm um ativo importante: a possibilidade de firmar contratos com órgãos públicos e governos municipais, além de se posicionar como parceiro de plataformas que não possuem logística própria. No Brasil, há legislação que confere preferência aos Correios em contratações públicas, um ponto estratégico para garantir volume e receita.

Empresas e plataformas recentes — como o TikTok Shop — têm crescido no comércio eletrônico, mas normalmente operam via parcerias logísticas e não mantêm, por ora, grande infraestrutura de fulfillment no país. Plataformas como OLX, marketplaces menores e novos players frequentemente dependem de terceiros para a entrega. Isso cria uma oportunidade: os Correios podem oferecer contratos de fulfillment, armazenagem e distribuição, aproveitando sua capilaridade e a confiança institucional.

Ao mesmo tempo, os contratos com governos — municipais, estaduais e federais — podem garantir fluxos estáveis. Leis e decretos recentes preveem preferência em contratações para serviços postais por parte do governo federal, o que fortalece a posição da estatal em licitações e compras públicas. Essas parcerias também ampliam a presença dos Correios e podem ser combinadas com serviços de maior valor agregado, como logística reversa, gestão de devoluções e entregas para programas sociais.

Contudo, é preciso atenção: a concorrência jurídica e econômica existe. Operadores logísticos privados têm questionado essas preferências, alegando impacto na concorrência. Por isso, qualquer estratégia comercial deve estar alinhada com transparência, compliance e diálogo com o setor privado e com o movimento sindical.


Regulamentar para concorrer de forma justa

As empresas privadas entregam rápido porque se apoiam em um modelo de trabalho altamente flexível, mas também precarizado. Motoristas e entregadores atuam como MEIs, sem férias, 13º salário ou proteção social. Já os Correios, por serem uma empresa pública, seguem a legislação trabalhista e asseguram direitos básicos.

Esse cenário cria uma concorrência desleal. Enquanto uns exploram mão de obra barata, a estatal é pressionada a cortar custos. Por isso, o governo federal precisa regulamentar o setor de entregas privadas, impondo regras mínimas de proteção ao trabalhador e de qualidade no serviço. Só assim haverá condições iguais de competição.


Modernização sim, uberização não

A modernização dos Correios deve significar:

  • Investimento em tecnologia de ponta;
  • Logística inteligente, reduzindo etapas desnecessárias;
  • Melhor comunicação e previsibilidade para os clientes;
  • Respeito e valorização aos concursados, que garantem segurança e universalidade no atendimento.

Precarizar trabalhadores não é modernizar. O caminho é evoluir com responsabilidade, mantendo a empresa pública forte e exigindo que as concorrentes privadas também sigam regras claras de concorrência e de respeito ao trabalhador.


✍️ Por Junior Solid

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