Uma matéria exibida pelo Jornal Nacional voltou a colocar os Correios no centro de uma narrativa que mistura alarmismo, omissões importantes e uma conclusão pronta: a privatização seria a única saída. O problema é que, para sustentar essa versão, o telejornal deixou de apresentar fatos decisivos que ajudam a explicar a situação atual da empresa — e que mostram como o suposto “rombo” não é consequência natural da gestão pública, mas de decisões políticas, cortes deliberados e abertura desenfreada do mercado em favor de grandes corporações privadas.
O “rombo” que o JN repete não caiu do céu: ele é fruto de escolhas políticas e econômicas
A reportagem reforça repetidamente o termo “rombo”, criando a sensação de colapso inevitável. Mas omite que boa parte do prejuízo recente é resultado direto de medidas adotadas pelos próprios governos, não da incapacidade da empresa.
O Jornal Nacional também não cita que, entre 2019 e 2021, os Correios tiveram lucros bilionários, usados pelo governo federal para cumprir regras fiscais, e não para reinvestir na empresa. Apenas esse fato já quebra a narrativa de que a estatal seria, por natureza, “ineficiente”.
Entre 2019 e 2022, os Correios foram impedidos de investir — por decisão do governo Bolsonaro
Um dos dados mais graves omitidos pela reportagem é que, de janeiro de 2019 a dezembro de 2022, os Correios não puderam investir. Com a privatização como objetivo central do governo Bolsonaro, qualquer investimento foi travado.
Isso significa:
- Os Correios tiveram lucro,
- possuiam caixa,
- mas foram proibidos de modernizar infraestrutura, logística, frota, hubs e sistemas.
Essa estratégia é conhecida: sucateia-se para justificar a venda. E agora o Jornal Nacional tenta reescrever a história como se a falta de investimentos fosse culpa da empresa ou de seus trabalhadores.
Como a abertura do mercado internacional destruiu 50 anos de liderança dos Correios
Outro ponto completamente ignorado pelo JN é a mudança que abalou o segmento mais lucrativo dos Correios: as encomendas internacionais.
Até recentemente, a estatal era líder absoluta, com cerca de 80% do mercado. Mas isso mudou drasticamente após a abertura do setor de encomendas internacionais, para empresas privadas.
Resultado:
- empresas estrangeiras entraram com estruturas agressivas;
- plataformas como Shopee e AliExpress internalizaram a logística;
- os Correios despencaram para cerca de 30% desse mercado.
Não houve “incapacidade”. Houve decisão política que desmontou a vantagem histórica da empresa para favorecer gigantes privados. E o Jornal Nacional simplesmente ignorou esse ponto.
Fechamento de agências e PDV: remédios que ampliam a doença
A reportagem trata o plano de reestruturação — que inclui demissão voluntária para 10 mil trabalhadores, fechamento de mil agências e venda de imóveis — como uma solução “técnica”.
Mas especialistas do setor explicam o contrário: reduzir capilaridade aumenta custos e piora o serviço, porque os Correios só conseguem operar com eficiência quando têm massa crítica e presença nacional.
Além disso:
- menos trabalhadores = entregas mais lentas;
- menos agências = perda de receita nos municípios menores;
- venda de ativos = perda patrimonial permanente.
Um plano assim é perfeito para quem quer privatizar — péssimo para quem depende do serviço.
A comparação com empresas privadas é uma farsa
O JN também afirmou que os Correios perderam mercado para empresas “mais modernas”. Mas não explicou que:
- empresas privadas não operam onde dá prejuízo;
- elas escolhem o filé do mercado;
- os Correios atendem todo o Brasil, inclusive áreas remotas onde o privado não entra.
Comparar modelos tão diferentes como se fossem equivalentes é manipulação — e cria um argumento artificial para justificar privatização.
Falta de governança? Não: falta de vontade política
A reportagem insiste que o problema seria a “interferência política”, e que só o capital privado poderia resolver. Mas ignora que:
- foi justamente a interferência política que impediu investimentos;
- grandes empresas privadas exercem lobby permanente no país;
- a logística nacional depende dos Correios para conectar regiões onde o privado jamais investiria.
Ou seja, o problema não é ser público. É ser estratégico demais para os interesses privados.
A verdade que o JN não contou
- Os Correios tiveram lucros bilionários entre 2019 e 2021.
- O governo Bolsonaro travou investimentos por quatro anos.
- A abertura do mercado para as encomendas internacional derrubou a liderança dos Correios de 80% para 30%.
- As perdas recentes são consequência de decisões políticas.
- O plano atual de reestruturação aprofunda o sucateamento.
O resultado da matéria do JN é claro: uma narrativa pronta para justificar cortes, enxugamentos, parcerias e privatizações — exatamente o que o mercado quer.
Mas o Brasil precisa discutir os Correios com base em fatos, não em narrativas.
✍️ Por Junior Solid
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