Nos últimos anos, grandes plataformas de comércio eletrônico — Mercado Livre, Shopee, Amazon e outras — investiram pesadamente em estruturas próprias de logística. Criaram centros de distribuição, frotas de veículos, contrataram entregadores autônomos e ampliaram a presença em capitais e grandes cidades. Mas mesmo com toda essa expansão, nenhuma delas conseguiu substituir a capacidade dos Correios na entrega final.
E essa constatação se tornou tão evidente que o Mercado Livre voltou a procurar os Correios para reforçar a etapa mais sensível da cadeia logística: o último quilômetro, onde ocorrem mais reclamações, falhas e indenizações quando o serviço é feito por empresas privadas.
1. O “calcanhar de Aquiles” do e-commerce: o último quilômetro
As plataformas privadas sofrem com um problema estrutural:
Alta rotatividade de entregadores
Os entregadores autônomos mudam de rota constantemente, trocam de empresa, migram para aplicativos ou abandonam a atividade. Isso significa que o cliente nunca sabe quem vai aparecer na sua porta.
Falta de reconhecimento comunitário
Nas cidades brasileiras, a segurança é prioridade. Um entregador desconhecido causa desconfiança, aumentando ocorrências como entregas deixadas no portão sem contato, ausência de chamada ao cliente e pacotes marcados como “entregues” sem confirmação real.
Falhas por pressão de produtividade
O modelo das empresas privadas baseia-se em corrida contra o tempo. Quanto mais entregas por dia, mais o entregador ganha — e isso aumenta a probabilidade de lançar o pacote e seguir adiante sem confirmar a entrega.
Essas falhas geram indenizações, reenvios, reclamações e perda de confiança. Foi justamente por isso que o Mercado Livre, segundo dirigentes sindicais, procurou os Correios: porque o setor privado não consegue fechar a entrega com segurança e regularidade.
2. O que os Correios têm que nenhuma empresa privada conseguiu reproduzir
✔ Carteiros fixos na mesma região por anos — às vezes décadas
O carteiro conhece moradores, comerciantes, síndicos, rotas internas das comunidades e acessos seguros. Esse nível de conhecimento cria laços de confiança e reduz tentativas de fraude, golpes e erros.
✔ É um servidor concursado e rastreável
O carteiro não pode errar impunemente: tem responsabilidades funcionais e pode perder o emprego por falhas graves — consequência que o entregador autônomo não enfrenta. Isso garante ao cliente e à empresa remetente segurança jurídica e pessoal.
✔ Capilaridade real — os Correios estão onde nenhuma empresa privada está
Os Correios alcançam áreas rurais, comunidades periféricas e regiões remotas onde empresas privadas simplesmente não operam. Nenhuma outra instituição logística do Brasil tem a mesma rede de agências e presença nacional.
Por isso, o Mercado Livre não “procurou ajuda”: procurou a única instituição capaz de garantir entregas onde eles não chegam.
3. Por que as plataformas privadas não conseguem entregar com qualidade?
Modelo baseado em terceirização extrema: a relação de trabalho é frágil; não há vínculo, não há estabilidade, não há compromisso de longo prazo — e por isso cada dia pode aparecer um entregador diferente.
Logística fragmentada: micro transportadoras e parceiros regionais não têm padronização, o que faz a qualidade variar bastante entre bairros e cidades.
Falta de compromisso institucional: uma grande plataforma não é responsabilizada pessoalmente pela falha de um entregador autônomo. O consumidor, porém, precisa de uma referência: e essa referência é o carteiro.
4. Mercado Livre e outros gigantes descobriram o óbvio
Depois de milhares de reclamações, reentregas mal feitas e prejuízos com indenizações, as empresas perceberam que: para entregar com qualidade no Brasil, precisa dos Correios.
- Segurança: o carteiro é identificado, monitorado, treinado e reconhecido pelos moradores.
- Confiança construída ao longo do tempo: o mesmo profissional atende a mesma região por anos.
- Qualidade comprovada: índices de satisfação e menor rotatividade operacional.
- Presença permanente: os Correios não abandonam um território por baixa lucratividade.
A entrega final tem dono — e são os Correios
Enquanto empresas privadas correm atrás de volume e velocidade, os Correios entregam algo que nenhum algoritmo substitui: proximidade, confiança e presença real em cada rua do Brasil.
O retorno do Mercado Livre ao sistema logístico dos Correios não é casual. É uma prova concreta de que, quando o assunto é entrega final, a empresa pública continua imbatível — técnica, social e institucionalmente.

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