A discussão sobre o resultado negativo dos Correios voltou à tona após a divulgação do desempenho das estatais e as falas do economista José Kobori. Muitos passaram a repetir a narrativa de que “empresa estatal dá prejuízo quando a esquerda governa”. Mas será que isso é verdade? Kobori deixa claro: não é uma questão de ideologia, e sim de lógica econômica e das funções públicas que o Estado exerce.
1. Estatais não existem para dar lucro — e isso não é defeito
Segundo Kobori, grande parte das estatais foi criada com objetivos sociais, estratégicos ou de longo prazo, e não para gerar lucro imediato. Ele cita exemplos:
- Empresa pública que fornece insumos hospitalares aos hospitais universitários — tem déficit porque atende a população carente.
- EMBRAPA — teve resultado negativo, mas é responsável por colocar o agronegócio brasileiro entre os maiores e mais lucrativos do mundo.
Ou seja: se olharmos só a planilha, daria vontade de “fechar”. Mas se olharmos a economia como um todo, elas geram bilhões para o país.
2. Correios: o problema é estrutural e antigo — não de governo
Kobori é direto: o prejuízo dos Correios não nasceu em 2023, 2024 ou 2025 — ele é resultado de uma mudança estrutural no setor.
E essa mudança tem nome: quebra do monopólio postal.
O filé virou privado; o osso ficou para os Correios
- Antes, os Correios tinham o monopólio da entrega de cartas e encomendas.
- Quando quebraram o monopólio das encomendas, a única parte lucrativa do setor passou para as empresas privadas.
- Restou aos Correios a obrigação de entregar cartas no Brasil inteiro — inclusive nos locais onde nenhuma empresa privada quer atuar porque não dá lucro.
Kobori resume bem: “O filé qualquer um pode explorar; o osso ficou todo para os Correios.”
3. A concorrência é desleal — e precarizada
As gigantes privadas (Amazon, Mercado Livre, FedEx, DHL etc.):
- atuam só onde dá lucro (grandes centros);
- entregam até 22h;
- operam com motoristas precarizados, sem direitos trabalhistas, recebendo por entrega;
- não têm vínculo CLT, encargos, logística universal nem obrigações públicas.
Enquanto isso, os Correios:
- mantêm estrutura nacional completa;
- empregam trabalhadores com direitos;
- entregam em 100% dos municípios;
- levam urnas eletrônicas às eleições;
- atendem áreas remotas onde nenhuma empresa quer ir.
É uma competição injusta — e deliberadamente criada.
4. Mas e o USPS? Ele também dá prejuízo — e ninguém fala em fechar
Kobori lembra: o correio estatal dos EUA (USPS) teve:
- dÉficit de US$ 8 bilhões,
- depois US$ 9,5 bilhões,
- e recentemente US$ 9 bilhões.
Mesmo assim:
- ninguém fala em privatizar,
- ninguém fala em fechar,
- porque os EUA entendem que a função social e democrática do correio é maior que o resultado financeiro.
Ou seja: até na maior economia capitalista do mundo, correio estatal dá prejuízo — e isso NÃO é problema.
5. E por que os Correios deram lucro no governo Bolsonaro?
Kobori não entra em detalhes porque exige análise técnica das demonstrações financeiras, mas ele lembra:
- o Mercado Livre, Amazon e outros já existiam;
- o setor já era competitivo;
- existe possibilidade de parte desse lucro ter vindo de venda de ativos, o que “maquia” resultados.
Lucro momentâneo não resolve o problema estrutural da empresa.
6. O real debate não é “dar lucro ou prejuízo” — é qual país queremos
Kobori finaliza com o ponto central: Não podemos tratar os Correios como empresa privada.
Eles prestam serviços essenciais, garantem direitos, mantêm a integração do território e sustentam a própria democracia (eleições, documentos, logística nacional).
Sim, há ineficiências — e elas devem ser corrigidas. Mas transformar isso em discurso de privatização é:
- ignorar o papel estrutural da empresa;
- deixar o país refém de corporações privadas;
- repetir um discurso raso e desinformado.
Concluindo José Kobori
O “rombo dos Correios” não é culpa de um governo ou de outro — é consequência de:
- perda do monopólio das encomendas (filé);
- manutenção das obrigações públicas (osso);
- concorrência privada precarizada;
- falta de compensação estatal pelos serviços públicos;
- modelo que privilegia lucro privado e custo público.
E Kobori confirma: Correio público é essencial para um país funcional — e fechar ou privatizar seria um tiro no pé.
Rombo dos Correios e estatais: De quem é a culpa? - José Kobori
🌍 Blog Mundo Sindical Correios – A voz de quem trabalha e resiste!
Inscreva-se no nosso canal no WhatsApp e receba as notícias do Blog Mundo Sindical Correios direto no seu celular! 📲 | https://whatsapp.com/channel/0029Vaxppbu4CrfkxRYSqv31
🔗 Siga nas redes sociais:
📘 Facebook: facebook.com/blogmundosindical (Curtir a nossa pagina)
🐦 Twitter/X: MundoSCorreios
🧵 Threads: @mundosindicalcorreios
📸 Instagram: mundosindicalcorreios
📺 YouTube: youtube.com/@mundosindicalcorreio

0 Comentários