ACT rejeitado, greve em curso e dissídio no horizonte: por que os trabalhadores dos Correios chegaram ao limite

A rejeição da proposta do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) não foi um gesto impulsivo nem isolado. Foi o resultado de meses de negociação frustrada, de uma proposta que não apresentou avanços econômicos e de uma postura empresarial que, mesmo sob mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST), optou por não melhorar as condições oferecidas aos trabalhadores.

As assembleias realizadas no dia 23 de dezembro deixaram isso evidente: a maioria das entidades sindicais rejeitou a proposta e a categoria respondeu com aquilo que sempre foi seu instrumento histórico de pressão — a greve.


O resultado das assembleias: maioria rejeitou e entrou em greve

Dos sindicatos que realizaram assembleias:

  • 18 sindicatos rejeitaram a proposta
  • 16 sindicatos aceitaram
  • 1 sindicato (SINTECT-RO) ainda realizará assembleia no dia 26/12

Mais importante que os números é o caráter da rejeição:

👉 Os sindicatos que rejeitaram já estão em greve, alguns desde 16 de dezembro.

A única exceção foi Alagoas, que rejeitou a proposta, mas não entrou em greve até o momento. Ainda assim, o quadro geral mostra que a rejeição foi acompanhada de mobilização concreta, desmontando qualquer narrativa de apatia ou divisão passiva da categoria.


A “Primeira Hora Extra” e a indiferença da empresa

O comunicado oficial da empresa, divulgado por meio da Primeira Hora Extra, chama atenção não apenas pelo conteúdo, mas principalmente pelo tom.

Não há ali:

  • reconhecimento do desgaste dos trabalhadores
  • sinal de autocrítica
  • demonstração de urgência

A mensagem é burocrática, fria e transmite a sensação de que a empresa não se sente pressionada, mesmo diante de uma greve nacional e de meses de negociação sem solução.

Isso revela uma escolha política: apostar no dissídio, tratando a mesa de negociação como mera formalidade.


Negociação desde julho: tempo houve, vontade não

É fundamental registrar:

  • As negociações do ACT se arrastam desde julho
  • Houve mediação do TST
  • Houve alertas, reuniões e tempo suficiente para ajustes

Mesmo assim, nenhuma melhora real no aspecto econômico foi apresentada. A empresa não fez gestos mínimos de recomposição, mesmo sabendo que a categoria enfrenta:

  • perda do poder de compra
  • aumento do custo de vida
  • sobrecarga de trabalho

Não foi o trabalhador que “endureceu”.
Foi a empresa que optou pela inércia.


Não trabalhamos de graça: a pauta é de preservação, não de privilégio

Os trabalhadores dos Correios não estão pedindo algo além do razoável.

A reivindicação central é clara:
👉 manter as cláusulas do acordo anterior, sem perdas.

Não se trata de exigir ganhos extraordinários, mas de preservar direitos já conquistados, fruto de décadas de luta sindical.

Vale repetir o óbvio — porque hoje ele precisa ser dito:

Trabalho é troca. Não é favor, não é caridade.

Quem sustenta a operação diária da empresa não pode ser tratado como custo descartável.


Dissídio coletivo: medo legítimo e memória recente

O receio da categoria em relação ao dissídio não surge do nada. No governo Bolsonaro:

  • houve retirada de diversas cláusulas
  • o dissídio foi desfavorável aos trabalhadores
  • o contexto político era abertamente hostil à classe trabalhadora

Foi uma derrota política, não apenas jurídica, em um cenário marcado por interesses da direita e por juízes alinhados a esse projeto.

Hoje, o governo é outro — e isso muda a cobrança.


Governo de esquerda, responsabilidade histórica

O atual governo foi eleito com voto da classe trabalhadora. Não foi colocado no poder para repetir práticas do período Bolsonaro.

Se no dissídio:

  • houver retirada grave de direitos
  • ou tratamento semelhante ao aplicado no governo anterior

Isso deverá ser politicamente atribuído ao governo Lula.

Não por oportunismo, mas por coerência:
👉 quem governa com apoio dos trabalhadores tem compromisso com eles.


questão financeira e o papel do Estado

É verdade que os Correios enfrentam dificuldades financeiras. Mas isso não foi causado pelos trabalhadores.

Além disso, decisões recentes do próprio governo, como a política conduzida pelo Ministério da Fazenda que retirou dos Correios a logística das encomendas internacionais, transferindo esse mercado para empresas privadas, impactaram fortemente a receita da empresa — algo estimado em bilhões de reais por ano.

Não é aceitável:

  • cortar receita
  • enfraquecer a empresa
  • e depois jogar a conta no colo do trabalhador

Empresa pública estratégica se sustenta com política de Estado, não com retirada de direitos.


Quando a mesa não responde, a greve responde

A greve dos trabalhadores dos Correios não é teimosia, nem radicalismo. É consequência direta de:

  • meses de negociação sem avanço
  • indiferença empresarial
  • tentativa de empurrar o conflito para o TST

Os trabalhadores chegaram ao limite — econômico, psicológico e político.

Como a história sindical já ensinou:

quando a empresa não escuta na mesa, acaba ouvindo no portão.

A luta que está em curso não é por privilégio.
É por dignidade, respeito e manutenção de direitos.


✍️ Por Junior Solid

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