A crise financeira dos Correios voltou ao centro do debate nacional depois que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que todas as ações envolvendo a estatal estão condicionadas à aprovação do plano de reestruturação. Segundo ele, qualquer aporte emergencial será inferior a R$ 6 bilhões, valor abaixo do montante que a direção dos Correios estima ser necessário para fechar o ano sem atrasos em salários, 13º e fornecedores.
A declaração ocorre justamente quando a estatal admite que não há mais tempo hábil para concluir a negociação de um empréstimo de R$ 20 bilhões com bancos — operação que também depende de aval do Tesouro. Na prática, sem socorro imediato, a empresa corre risco de entrar em colapso operacional.
O governo condiciona ajuda a cortes internos
Haddad foi direto:
“Os Correios precisam ser reestruturados. Tudo está condicionado ao plano.”
O discurso repete o mesmo padrão dos últimos meses: antes de liberar recursos, o governo exige mudanças profundas no modelo de gestão, reorganização de despesas e revisão de processos internos. Na prática, isso coloca os trabalhadores e a própria missão pública da estatal como variáveis de ajuste.
O Tesouro, segundo o ministro, tem “espaço fiscal” para ajudar — mas a decisão política ainda não foi tomada.
Correios estão sem caixa e o tempo acabou
A direção aguarda um aporte entre R$ 5 e R$ 6 bilhões até 16 de dezembro. Sem isso:
- folha pode atrasar,
- 13º fica em risco,
- fornecedores podem parar serviços,
- agências podem entrar em colapso operacional.
É o diagnóstico oficial da própria empresa: “maior crise financeira de sua história”.
Como chegamos a isso? A política econômica do próprio governo enfraqueceu a estatal
Aqui entra a visão crítica que representa milhares de trabalhadores — e que foi expressa claramente pelo por mim nesta matéria.
É importante reconhecer que Haddad tem uma trajetória respeitável na educação, responsável por políticas públicas como ProUni, Sisu, Fundeb e expansão das universidades federais. Sempre apostei sua capacidade e visão social.
Mas na Fazenda, suas decisões afetaram diretamente a saúde financeira dos Correios:
1. A “taxa da blusinha” — arrecadou pouco e tirou muito
O governo estimou arrecadar R$ 1 bilhão com taxação de importações de baixo valor. O impacto real?
- os Correios perderam quase R$ 2 bilhões em receita,
- reduziram o fluxo de pequenos pacotes,
- marketplaces migraram para transportadoras privadas.
Foi um tiro no pé de uma estatal que já operava no limite.
2. A abertura da entrega internacional para empresas privadas
Outra medida do governo derrubou a participação dos Correios nas importações internacionais:
- antes: 80% do fluxo era postal;
- depois: caiu para cerca de 30%.
Isso reduziu receita, escala logística, relevância estratégica e capacidade de investimento. Na prática, foi uma privatização branca, pois empresas privadas passaram a abocanhar o mercado que sustentava parte das operações nacionais.
O paradoxo: o governo cria o problema e depois condiciona a solução
Após medidas que prejudicaram diretamente a empresa, o governo agora resiste em liberar recursos emergenciais — e só aceita fazê-lo se os Correios se submeterem a um plano de reestruturação profundo.
Ou seja:
Primeiro enfraqueceram a estatal.
Agora condicionam ajuda a mudanças internas que podem afetar trabalhadores.
Para os trabalhadores dos Correios, esse movimento é visto como injusto e perigoso: a empresa está fragilizada justamente por políticas que vieram de cima, não por causa dos carteiros, atendentes ou operadores logísticos.
Contexto político: Correios entraram no balcão do Orçamento 2026
Haddad falou após reunião com:
- Hugo Motta (presidente da Câmara)
- Davi Alcolumbre (presidente do Senado)
O encontro tratou da reta final da votação do Orçamento de 2026 — e o aporte aos Correios entrou no pacote de negociações. Isso torna a estatal moeda política entre governo e Congresso.
A sinalização é clara: sem reestruturação, não há socorro.
O futuro dos Correios está sendo decidido sem transparência e sem diálogo com quem trabalha na empresa
A crise é real, e o aporte é urgente. Mas não se pode ignorar que parte da situação atual é consequência das próprias decisões econômicas do governo, especialmente no comércio internacional.
Ao condicionar o socorro à reestruturação, o risco é que os trabalhadores paguem a conta de escolhas feitas fora dos Correios.

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