Os negócios obscuros nos Correios: por que os mesmos esquemas se repetem em todos os governos

A nova denúncia publicada por Luiz Nassif reacende um alerta antigo: os Correios continuam vulneráveis a esquemas que atravessam diferentes gestões, partidos e períodos históricos.



A denúncia de Luiz Nassif: integradoras, contratos e privilégios indevidos

Em sua coluna publicada no Jornal GGN, Luiz Nassif descreve um suposto esquema envolvendo integradoras privadas que teriam acesso a benefícios exclusivos dos grandes contratos dos Correios, repassando descontos para terceiros de forma irregular.

Segundo a matéria, empresários ligados a ex-diretores e a grupos políticos teriam criado empresas para revender códigos de postagem, praticar subdeclaração de peso, usar contratos de “guarda-chuva” e manipular classificação tarifária — tudo isso reduzindo artificialmente o valor pago aos Correios e transferindo vantagens ilegais para clientes menores.

A denúncia aponta para:

  • possível participação de ex-dirigentes dos Correios atuando no setor privado logo após deixarem cargos estratégicos;
  • prejuízos ainda não mensurados para a estatal;
  • riscos de captura privada da operação de encomendas, justamente no setor mais lucrativo da empresa.

Fonte: Nassif, L. Os negócios obscuros nos Correios. Jornal GGN. 


Não é a primeira vez: os Correios no centro de escândalos nacionais

Para entender por que isso se repete, basta olhar o histórico: 2005, 2015, 2020, 2022… sempre há um esquema novo, com novos nomes, mas com a mesma fragilidade institucional.

📌 2005 — O escândalo que detonou o Mensalão (Governo Lula)

Em maio de 2005, Maurício Marinho, então diretor de Contratação, foi filmado recebendo propina para facilitar contratos dentro da estatal. O vídeo foi divulgado pela revista Veja e rapidamente se transformou em uma crise nacional.

A CPI dos Correios revelou favorecimento a empresas via licitações manipuladas; superfaturamento em contratos; e envolvimento político nos esquemas.

Fontes:
Wikipedia — Escândalo dos Correios
Agência Brasil (memória) — Entenda a denúncia
Câmara dos Deputados — Matéria sobre novas denúncias


📌 2015 — Crise financeira, contratos suspeitos e loteamento interno (Governo Dilma)

Em 2015 os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,1 bilhões e foram alvo de diversas auditorias internas e alertas de controle sobre licitações e contratações, sinalizando fragilidade gerencial e riscos de irregularidade. Houve ainda investigações ligadas ao Postalis, o fundo de pensão da categoria, que afetaram o ecossistema da estatal. Esses elementos demonstram um ambiente de crise e vulnerabilidade institucional naquele período, ainda que não exista um único caso criminalizado em 2015 com a mesma amplitude das operações federais deflagradas em 2020 e 2022.

Fonte: Relatório de Gestão / Prestação de Contas 2015 da ECT, mostrando as despesas, receitas e o prejuízo de R$ 2,1 bilhões


📌 2020 — Fraudes gigantes e captura interna (Governo Bolsonaro)

Operações da Polícia Federal apontaram esquemas de subfaturamento, uso indevido de contratos e manipulação de sistemas internos. A estimativa de prejuízos e as investigações mostraram fragilidades significativas.

Fontes: Polícia Federal — Operação Mercancia Postal


📌 2022 — “Agências piratas”, integradoras e rombo de R$ 30 milhões (Governo Bolsonaro / transição)

Operação da Polícia Federal desarticulou organização que simulava ser representante dos Correios e burlava o sistema de postagem, causando prejuízo estimado em R$ 30 milhões. Pequenas agências franqueadas foram afetadas e algumas fecharam após a perda de volumes de encomenda.

Fonte: Polícia Federal — Operação (julho/2022)


Por que os escândalos continuam? A raiz é estrutural

Ao analisar todos esses episódios — 2005, 2015, 2020, 2022 e as denúncias recentes sobre integradoras — um padrão fica evidente: os Correios têm uma vulnerabilidade sistêmica que atravessa qualquer governo.

Principais razões:

  1. Muito dinheiro circulando: contratos de encomendas, logística, TI e transporte.
  2. Estrutura gigantesca e difícil de fiscalizar: milhares de unidades e muitos processos.
  3. Loteamento político histórico: diretorias usadas como moeda de troca.
  4. Rotação de dirigentes: ex-dirigentes frequentemente atuam no mercado que negocia com a estatal.
  5. Governança deficiente: falhas em controles, auditoria e acompanhamento de contratos.

Conclusão: governos passam, os esquemas ficam — e quem paga é o trabalhador

A repetição dos escândalos mostra que não existe “governo inocente” quando se trata dos Correios. Partidos de todas as matrizes ideológicas se aproveitaram das brechas; a fragilidade estrutural da estatal é explorada por atores internos e externos; e cada nova fraude aprofunda a crise, prejudicando trabalhadores e o serviço público.

Em suma: o problema é estrutural — mas os governos, todos eles, se aproveitam dessa estrutura. Sem governança, transparência e blindagem institucional, a estatal continuará sendo alvo de esquemas.

Postar um comentário

0 Comentários