Os Correios são uma empresa pública federal de capital fechado, vinculada ao Ministério das Comunicações, com personalidade jurídica de direito privado. Sua atuação é regida pelo Estatuto Social e pelo Decreto-Lei nº 509/1969, que estabelece como missão da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) planejar, implantar e explorar os serviços postais em todo o território nacional, inclusive nas regiões mais remotas do país.
Diferentemente de empresas privadas, os Correios não existem para gerar lucro. Sua razão de ser é a prestação de um serviço público essencial, pautado pelo princípio da universalização postal — ou seja, garantir que toda a população brasileira, independentemente da localização geográfica ou da renda, tenha acesso aos serviços básicos de comunicação e logística.
Essa característica torna a ECT um verdadeiro braço logístico do Estado brasileiro. Em milhares de municípios, especialmente no interior, na Amazônia Legal, no semiárido nordestino e em áreas de difícil acesso, os Correios são o único balcão de serviços disponível à população. Onde o setor privado não atua por falta de interesse econômico, os Correios permanecem por obrigação legal e compromisso social.
Um país continental exige uma empresa pública forte
O Brasil possui cerca de 8,5 milhões de km², sendo o quinto maior país do mundo, com mais de 5.500 municípios espalhados por regiões com enormes desigualdades estruturais. A realidade logística nacional impõe desafios que não podem ser comparados a países europeus de território reduzido e infraestrutura densa, como Portugal, Bélgica ou Países Baixos.
Mais de 60% das estradas brasileiras são de terra, muitas em péssimas condições de manutenção. Em diversas localidades, o acesso depende de transporte fluvial ou aéreo, muitas vezes de forma sazonal. Esse cenário exige uma estrutura logística robusta, capilarizada e permanente — algo que apenas uma empresa pública nacional consegue assegurar.
Por isso, avaliar os Correios exclusivamente por critérios de lucro é um erro conceitual e político. O parâmetro central deve ser a qualidade do serviço, a presença territorial e o atendimento ao interesse público, e não a lógica mercantil.
A queda da qualidade operacional tem causa: redução do efetivo
Nos últimos anos, a perda de qualidade operacional dos Correios não ocorreu por incapacidade dos trabalhadores, mas sim pela redução sistemática do efetivo, associada à ampliação de contratos terceirizados e ao avanço de agências privadas. Esse modelo transfere recursos públicos para entes privados, fragiliza a empresa estatal e compromete o serviço prestado à população.
Apesar de sucessivos programas de desligamento voluntário, enxugamento de pessoal e desvalorização institucional, os trabalhadores seguem sendo a principal força de sustentação da empresa. O atual quadro funcional é menor, envelhecido e adoecido, com sobrecarga em praticamente todos os setores operacionais. Ainda assim, a categoria mantém o funcionamento dos Correios, mesmo em condições cada vez mais adversas.
Sem a convocação imediata dos aprovados no concurso público de 2024, inclusive do cadastro reserva, o risco de colapso operacional é concreto e pode se tornar irreversível. O concurso previa mais de 3 mil vagas para áreas operacionais, mas até o momento não houve qualquer chamamento, agravando a situação dos centros de distribuição e unidades de tratamento.
PDVs sucessivos e ausência de reposição
Desde 2014, os Correios vêm adotando programas de desligamento voluntário (PDIs e PDVs) como principal ferramenta de redução de despesas com pessoal. Esses programas foram aplicados de forma contínua, sem reposição proporcional do efetivo, o que comprometeu severamente a capacidade operacional da empresa.
Entre 2014 e 2025, milhares de trabalhadores deixaram a ECT por meio de PDVs, com impactos financeiros bilionários e perda irreparável de conhecimento técnico e experiência acumulada. Somente o PDV iniciado em 2024 já contabiliza mais de 3.700 adesões, com custo estimado superior a R$ 400 milhões até junho de 2025.
Mesmo diante desse cenário crítico, um plano aprovado em dezembro de 2025 prevê, de forma contraditória, a possibilidade de demissão de até 15 mil trabalhadores, aprofundando o ciclo de esvaziamento operacional e colocando em risco a própria existência dos Correios como empresa pública nacional.
Um quadro funcional em queda livre
Os dados históricos confirmam a gravidade da situação. O quadro de pessoal dos Correios atingiu seu pico em 2013, com mais de 132 mil empregados ativos. Desde então, a empresa perdeu dezenas de milhares de trabalhadores. Em 2025, a estimativa é de cerca de 85 mil empregados, o menor patamar em décadas.
Essa redução não acompanha o crescimento da demanda logística nem a complexidade da operação em um país continental. O resultado é sobrecarga, adoecimento, queda na qualidade do serviço e aumento da dependência de contratos terceirizados.
Defender os Correios é defender o serviço público
A realidade é clara: não existe Correios forte sem trabalhadores suficientes. A defesa da empresa pública passa, necessariamente, pela recomposição do efetivo, pelo fim da política de esvaziamento e pela valorização dos trabalhadores que mantêm o serviço funcionando.
Tratar os Correios como uma empresa qualquer, submetida à lógica do lucro e da terceirização, é comprometer a integração nacional, o atendimento à população e o próprio papel do Estado brasileiro. Defender os Correios é defender o serviço público, o dinheiro público e o direito da população a uma logística universal, eficiente e socialmente responsável.
✍️ Por Junior Solid
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